O contacto com ecrãs por bebés de um ano reflete-se negativamente no seu desenvolvimento cognitivo aos dois e aos quatro anos, indica um estudo publicado esta segunda-feira, 21, no jornal científico JAMA Pediatrics. Quanto maior a exposição de crianças com um ano a telemóveis, tablets e afins, maior o atraso verificado um e três anos mais tarde, no que respeita ao desenvolvimento das habilidades de comunicação e de resolução de problemas, concluíram investigadores das universidades de Tohoku e Hamamatsu, no Japão.
A equipa de cientistas japoneses seguiu mais de sete mil mães e respetivos filhos ao longo de quatro anos (2013 e 2017), com o propósito de avaliar a evolução de cinco parâmetros do desenvolvimento infantil – além dos dois já mencionados, acresce a coordenação motora fina (pequenos grupos de músculos, por exemplo, das mãos) e a grossa (músculos das pernas, por exemplo), e ainda habilidades sociais e pessoais. Os bebés de um ano foram divididos em quatro categorias (os que viam ecrãs menos de uma hora por dia, entre uma e duas horas, entre duas e quatro, e mais tempo do que isso) e, em seguida, o estudo comparou o seu desenvolvimento com o padrão médio no Japão aos dois e aos quatro anos, a partir de questionários respondidos pelas mães.
A nível da coordenação motora grossa, não foram detetados desvios em relação à norma nem aos dois nem aos quatro anos. Já no que diz respeito à coordenação motora fina e ao desenvolvimento de habilidades sociais e pessoais, o risco de atrasos no desenvolvimento apenas foi identificado aos dois anos, e apenas na categoria com mais de quatro horas de exposição diária, desaparecendo na segunda medição aos quatro anos. No entanto, quer as faculdades comunicativas quer a capacidade de resolver problemas ressentiram-se em ambos os momentos de avaliação (aos dois e aos quatro anos de idade), a partir das duas horas diárias em frente aos ecrãs, no primeiro parâmetro, e acima das quatro horas de exposição por dia, no segundo.
Os investigadores destacam a importância do estudo por permitir um conhecimento mais aprofundado do impacto dos ecrãs no desenvolvimento infantil ao longo de vários anos – e não apenas num dado momento do processo -, mas reconhecem limitações. Não foi possível aferir, por exemplo, que tipo de interação existiu com os aparelhos nem se as crianças estiveram sozinhas ou acompanhadas por adultos na maior parte do tempo, duas premissas que influenciam os efeitos nocivos (ou benéficos) do contacto com a tecnologia.