“We’re laser-focused on getting aid to survivors” (Estamos muito concentrados em fazer chegar ajuda aos sobreviventes, em português) escreveu o Presidente na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter.
Com Joe Biden aparentemente alheio às teorias da conspiração que já circulavam pelas redes sociais e que alegavam que os incêndios florestais que assolaram Maui a 8 de agosto teriam sido iniciados por lasers espaciais, a sua escolha de palavras instigou a onda já existente.
“Isto está escondido à vista de todos”, escreve um internauta.
Embora as alegações de que o incêndio fez parte de uma “apropriação de terras pela elite”, ou que o governo pretende criar uma ilha inteligente sejam novas, a ideia de que os sistemas de armas laser desenvolvidos pelo governo foram utilizados para iniciar os incêndios florestais não é nova, e remonta, pelo menos, aos incêndios florestais que atingiram a Califórnia em outubro de 2017.
Por muito mirabolantes que estas ideias possam parecer, as publicações que divulgam estas teorias, obtiveram milhões de visualizações na rede social X.
Os incêndios em Maui começaram a 8 de agosto e, até à data, custaram a vida a mais de uma centena de pessoas. As autoridades estão a investigar a causa dos incêndios, que são os mais mortíferos desde 1918 nos EUA.
Os “lasers espaciais”
Grande parte das teorias da conspitação têm circulado na rede social X. Numa publicação que conta com um milhão de visualizações, um utilizador “verificado” publicou uma imagem do raio de luz, que afirma ter sido tirada no Havai – muitos dos que espalham as conspirações são subscritores do serviço Twitter Blue, o que garante que as suas mensagens sejam promovidas mais fortemente nos resultados de pesquisa.
“Esta fotografia está a circular nas redes sociais. Aparentemente, este raio foi captado antes dos incêndios no Havai. Alguém pode confirmar?”, lê-se.
A imagem é na verdade de um lançamento da SpaceX, em 2019, na Base da Força Aérea de Vandenberg, na Califórnia, agora conhecida como Base da Força Espacial, como os utilizadores assinalaram.
As armas de energia direta ou DEW (sigla) não são uma invenção dos conspiracionistas, sendo definidas pelo Gabinete de Investigação Naval da Marinha dos EUA como “sistemas eletromagnéticos capazes de converter energia química ou elétrica em energia radiada” que são disparados à velocidade da luz. Há décadas que o governo dos EUA tenta pô-las a funcionar no campo de batalha, onde poderiam ser utilizadas para combater ataques de drones e mísseis.
Numa outra publicação no X, um utilizador verificado publicou uma fotografia, novamente de um raio de luz e de uma explosão, que já foi vista quase três milhões de vezes.
O mecanismo de fact-check da rede social interviu, esclarecendo na própria publicação que “A imagem é de um evento que ocorreu no Michigan em 2018, não um evento atual no Havai” e mostra um fenómeno ótico conhecido como pilar de luz, que é causado por reflexos de luz de minúsculos cristais de gelo suspensos na atmosfera.
A disseminação de teorias da conspiração na rede social X aumentou desde que Elon Musk retirou as marcas de verificação azuis de especialistas, celebridades e funcionários do governo, e permitiu que qualquer utilizador que pague 8 dólares por mês obtenha uma “verificação”.
Ben Collins, repórter da emissora americana de televisão NBC News, escreveu no X esta semana que os incêndios no Havai mostraram como “a cultura da conspiração não pode e não deve ser chamada à razão”.