O espaço é o infinito e com ele surgem um conjunto de mistérios que estão a ser desvendados. A História do Universo em 100 Estrelas é um livro que ajuda a conhecer algumas das principais estrelas que compõem o céu que ambicionamos conhecer.
Florian Freistetter, autor do livro, é doutorado em Astronomia pela Universidade de Viena. Vencedor do IQ Award pelo seu trabalho como investigador, lançou em 2008 o blogue de astronomia Astrodicticum simplex, um dos blogues científicos mais lidos da Alemanha.
Esta semana apresentamos a Estrela 51 Pegasi, que surge como a resposta a uma pergunta milenar.
A História do Universo em 100 Estrelas
Estrela 51 Pegasi
“Existem muitos mundos ou apenas um? Esta é uma das mais nobres e elevadas questões que se colocam no estudo da natureza. Uma questão que o espírito humano deseja entender por si próprio.” Era isto que escrevia o bispo e erudito alemão Alberto Magno no século XIII. Porém, a resposta a esta nobre e elevada questão só se obteve mais de 700 anos depois, com a estrela 51 Pegasi.
A Humanidade anda há séculos a perguntar‑se pela existência de outros mundos. Já os pré‑socráticos na Grécia Antiga se questionavam se a Terra era o único mundo ou apenas um de muitos. Por exemplo, Demócrito, um dos fundadores do atomismo, fala de mundos ilimitados de extensão ilimitada, dos quais uns têm mais sóis e luas do que os nossos e outros menos. O debate sobre estas questões continuou ao longo dos séculos seguintes e dele se ocuparam tanto a filosofia como a teologia durante a Idade Média e o início da Idade Moderna. Contudo, quer se mencionasse Deus ou a natureza, não se chegava a uma resposta definitiva.
Porém, teologicamente, podemos argumentar, por exemplo, que na Bíblia não se fala de outros mundos e que, portanto, é impossível que existam. Ou, pelo contrário, que um deus todo‑poderoso, omnipotente e infinito não poderia fazer outra coisa do que criar um sem‑fim de mundos. Ao longo dos séculos, teólogos, filósofos e naturalistas encontraram infinitos motivos para argumentarem a favor e contra a existência de outros mundos, mas só conseguiram zangar‑se uns com os outros, especular e debater. Contudo, ainda se sabia muito pouco sobre o mundo.
Primeiro era preciso reconhecer que a Terra é um planeta que gira à volta do Sol, uma estrela. Era preciso averiguar que muitos dos pontos luminosos que se distinguiam no firmamento eram estrelas, parecidas com o nosso Sol, mas muito mais distantes. Era preciso entender como é que podiam nascer estrelas e planetas e precisávamos dos instrumentos necessários para poder estudá-los.
Por isso, os cientistas só se conseguiram dedicar seriamente à pesquisa de outros mundos na década de 1980. Ou de planetas extrassolares, como lhes chamamos hoje em dia, ou seja, que orbitam à volta de outras estrelas e não do nosso Sol.
Sabia‑se que, em princípio, estes podiam existir, mas como ainda não se conhecia detalhadamente como e em que circunstâncias se formam os planetas, também não era evidente quantos existiam. Talvez o Sol, com os seus oito planetas, fosse um caso especial para o cosmos. Apesar de tudo, empreendeu‑se a busca, e nas décadas de 1980 e 1990 grupos de trabalho de astrónomos dos EUA e do Canadá competiam pela honra de encontrar os primeiros planetas extrassolares.
Os vencedores na corrida de caça aos planetas foram, contudo, dois marginalizados: Michel Mayor, da Universidade de Genebra, e o seu doutorando, Didier Queloz. Em abril de 1994 centraram a sua atenção através do seu telescópio na estrela 51 Pegasi: situada a 50 anos‑luz de nós, na constelação Pégaso, de maior tamanho e idade do que o Sol. À primeira vista, a estrela distingue‑se se as circunstâncias forem adequadas: naturalmente, sem meios técnicos, não se pode ver o planeta que os dois suíços ali descobriram. E, diga‑se de passagem, com meios técnicos no mais estrito sentido também não: Mayor e Queloz descobriram o corpo celeste de maneira indireta, já que se aperceberam de que a estrela oscilava de uma forma muito concreta. É que cada planeta exerce uma força gravitacional, embora seja mínima, na estrela enquanto gira à sua volta, devido ao qual esta última oscila um pouco para um lado e para outro. Este movimento pode medir‑se analisando a luz da estrela, e com ele podem deduzir‑se a massa e a órbita do planeta.
No entanto, quem afirmar ter encontrado a resposta para uma pergunta milenar talvez seja alvo de olhares céticos. E foi isso que aconteceu a Mayor e Queloz, cuja descoberta foi recebida, inicialmente, com receio. Porém, a esta altura, a existência do planeta em questão foi confirmada reiteradas vezes por observações independentes. Duplica o tamanho de Júpiter e pesa apenas metade, mas é igualmente real. E desta forma ficou claro de uma vez por todas: sim, há outros mundos.
Por isso, também existem outras estrelas em redor das quais giram planetas, e a 51 Pegasi foi a primeira estrela que nos confirmou a suspeita que albergávamos há algum tempo. Por conseguinte, também foi
uma das estrelas que em 2015 recebeu um novo nome por parte da União Astronómica Internacional. Desde então chama-se – não é uma grande surpresa, tendo em conta a nacionalidade dos descobridores do planeta – Helvetios.