Não é habitual ver um McLaren Senna, viatura para um milhão de euros, a pisar o alcatrão das estradas portuguesas. E mais raro é vê-lo em chamas. Mas, a 1 de março de 2020, a filha de um funcionário de Hernâni Vaz Antunes esbarrou, no Facebook, com um vídeo de um desses momentos e terá logo identificado o dono da viatura, o que a levou a informar o pai. Preocupado, o homem contactou o patrão, para quem a situação foi apenas um mero contratempo: “Se vós tivesses mais preocupação em fechar o portão quando sais e meter o cadeado do que estar a ver no Facebook, eras uma pessoa, vou-vos dizer, do melhor do mundo”, respondeu-lhe, irritado, acrescentando que já lhe tinham telefonado umas dez pessoas que, tal como ele, não tinham “mais que fazer na vida”.
Descrito pelo juiz Carlos Alexandre como detentor de uma personalidade “imperativa, manipuladora, calculista, egocêntrica e impulsiva”, há muito que Hernâni Vaz Antunes, 60 anos, suspeito na Operação Picoas, em prisão domiciliária na sua casa, em Pedralva, Braga, deixou de andar a pé na freguesia, como fazia quando a pobreza da infância o obrigava a andar oito quilómetros diariamente para frequentar o (antigo) Ciclo Preparatório. Os carros, de luxo, substituíram os pés e passaram a ocupar espaço na garagem do empresário. O McLaren Senna, com apenas 35 quilómetros de estrada, acabaria por ser recolhido pela marca. Nada que o desmoralizasse, porque, ao mesmo tempo que tratava da papelada para a recolha, Hernâni Vaz Antunes encomendou outro: um McLaren 600 LT, mais barato do que o primeiro, 250 mil euros.

