Estamos habituados a ver atores representarem, na televisão ou no grande ecrã, papéis de lendários sindicalistas e dar corpo e cor a movimentos grevistas que ficaram na História. O que não é costume é ver os próprios atores a entrar em greve e ameaçar parar a Meca do cinema, Hollywood. A indústria da sétima arte e também o mercado das séries que alimentam os inúmeros serviços de streaming poderão vir a ressentir-se da greve por tempo indeterminado que o sindicato dos atores norte-americanos, o SAG-AFTRA, iniciou na última sexta-feira, 14, juntando-se à paralisação dos argumentistas e guionistas, que se arrasta desde 2 de maio. E se é verdade que os profissionais da escrita para cinema e televisão já nos tinham habituado a ser mais reivindicativos (em 2007, estiveram 100 dias em greve), os atores raramente se mobilizam com esta força. A última vez que aquele sindicato decretou uma greve foi há mais de 40 anos, em 1980, e a ocasião em que atores e guionistas se juntaram numa paralisação deste género remonta a 1960, era, na altura, Ronald Reagan líder do Screen Actors Guild, organização que, em 2012, se fundiu com a Federação Americana de Artistas de Televisão e Rádio, criando assim o atual SAG-AFTRA.
A poderosa estrutura sindical que representa os direitos laborais de atores de filmes e programas de televisão, bem como artistas de videojogos, apresentadores de rádio, modelos e influenciadores no YouTube, decidiu avançar para esta greve por tempo indeterminado, por terem fracassado as negociações com a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), que representa os responsáveis dos estúdios de Hollywood, tendo em vista a assinatura de um acordo quanto a novas regras para o exercício da profissão. E as razões que ditaram a decisão de partir para a greve são idênticas às que já tinham levado à paralisação decretada pelo Writers Guild of America (WGA), sindicato que representa os argumentistas e guionistas nos EUA. As duas estruturas exigem às produtoras melhorias salariais e regras mais rígidas face às inovações que têm vindo a mudar a indústria, nomeadamente com o aparecimento dos serviços de streaming e o advento da Inteligência Artificial.