Conhecido pelos fãs e entusiastas do hip-hop francês como Pone, integrou, como produtor, o grupo Funky Family que revolucionou o rap no final dos anos 90. Em 2015, Pone foi diagnosticado com esclereose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurológica que lhe paralisou os músculos da cabeça aos pés, deixando-o acamado. A doença roubou-lhe a mobilidade, mas também a sua voz distinta.
Pone continuou a fazer música graças a um software que lhe permite acionar um rato de computador com os seus olhos e escrever frases que o seu computador posteriormente lê.
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O produtor francês nunca perdeu a ambição de recuperar a sua voz e, em entrevista ao The New York Times, explicou que “a voz é uma coisa muito pessoal” e que a forma como se fala “diz muito sobre o nosso carácter”.
Foi, então, em 2020 que, juntamente com o comediante francês Marc-Antoine Le Bret, conhecido pelas suas imitações das vozes de celebridades, tentou criar uma nova voz que correspondesse à sua antiga.
Le Bret confidenciou ao jornal norte-americano que, apesar de nunca ter conhecido Pone, concordou imediatamente em seguir o projeto. “É o desafio mais bonito da minha vida”, acrescentou o comediante.
O ex-membro dos Fonky Family não fazia rap, apenas produzia as músicas do grupo, o que acabou por ser um desafio para o comediante, que necessitava de criar uma adaptação genuína daquilo que era a voz de Pone.
Foi nos fragmentos da sua voz em entrevistas, vídeos dos bastidores de concertos e conversas de estúdio em sessões de gravação que conseguiu aperfeiçoar a sua interpretação.
Le Bret tentou “absorver” o timbre de Pone e a sua forma de se exprimir, mas sem cair na caricatura, como explicou, dando voz a cerca de 250 frases num estúdio de gravação para encontrar o equilíbrio dos fonemas que alimentaram um programa de processamento e sintetização de voz digital.
O resultado foi a obtenção de um som muito próximo da sua voz original, e, apesar das falhas – frases mais longas eram distorcidas e algumas sílabas eram ocasionalmente omitidas – a experiência foi positiva para Pone.
Uma das filhas de Pone, Jasmine, afirmou, em entrevista ao jornal, que a voz atual do pai já a conquistou. “Já não é bem a voz de um robô. É a do meu pai”, disse.
O produtor perdeu a voz antes do aparecimento de muitas ferramentas de inteligência artificial, que oferecem agora esperança a doentes com a fala impedida. Experimentou diferentes programas, mas os resultados tinham sido, até agora, “muito decepcionantes”, contou.
Agora, quando quer falar, um sensor de infravermelhos segue os seus olhos à medida que estes se movem através de um teclado num ecrã, permitindo-lhe escrever texto que é depois lido num tom monótono.
Diagnosticado há oito anos com esclerose lateral amiotrófica, já superou o tempo médio de sobreviência destes doentes, que, segundo a ALS Association, organização norte-americana sem fins lucrativos que financia a investigação global sobre a esclerose lateral amiotrófica, é de dois a cinco anos.
Criou uma editora musical e, usando os seus olhos para operar o software de música, já lançou vários álbuns, incluindo um que foi baseado inteiramente em samples da cantora inglesa Kate Bush. Também a música da cerimónia de entrega dos Jogos Paraolímpicos de Tóquio de 2020 e de Paris, previstos para 2024, é da sua autoria.