O narcotraficante Sérgio Roberto de Carvalho já está na Bélgica, depois de ter viajado, ao final do dia de quinta-feira, num avião da Força Aérea belga, que fez a ligação entre Budapeste e Bruxelas, depois de quase um ano detido na capital húngara. Os pormenores desta operação de extradição “musculada” foram revelados pelas autoridades húngaras, através de um vídeo, que VISÃO agora revela (ver abaixo).
A VISÃO já tinha avançado, em primeira mão, em maio deste ano, que a ministra da Justiça húngara, Judit Varga, decidira autorizar a extradição do Major Carvalho – como também é conhecido – para a Bélgica, país onde o principal narcotraficante do Brasil (e um dos maiores do mundo) vai agora responder em tribunal por crimes ligados ao tráfico internacional de droga.
A defesa de Major Carvalho tentou travar este desfecho, chegando a pedir ao tribunal para que fosse aplicada uma norma que permitiria ao detido ser julgado no seu país-natal. Depois da Bélgica, Sérgio Roberto de Carvalho arrisca-se ainda a ser julgado nos Estados Unidos da América, e só depois deverá seguir para o Brasil – onde também está envolvido em vários processos judiciais.
Recorde-se que Sérgio Roberto de Carvalho foi preso, em junho de 2022, quando tomava o pequeno-almoço num hotel localizado próximo do Parlamento de Budapeste, junto às margens do Danúbio, onde estava alojado com um passaporte mexicano em nome de Guilhermo Diaz Flores.
A detenção surgiu na sequência de um “alerta vermelho” da Interpol, emitido por um tribunal brasileiro, em novembro de 2020. De acordo com essa notificação, o “Escobar brasileiro” – como também é chamado (numa referência ao famoso narcotraficante colombiano Pablo Escobar) – é acusado de ser o responsável pelo tráfico de 45 toneladas de cocaína do Brasil para a Europa, entre 2017 e 2019, e de ter branqueado milhões de dólares através de diversas empresas fictícias.
Interpol alerta: plano de fuga
Seis meses após esta detenção, a Interpol alertou as autoridades húngaras para a possibilidade de Sérgio Roberto de Carvalho estar a preparar um plano de fuga da prisão em que se encontrava.
Em janeiro deste ano, fonte da Interpol confirmou à VISÃO que, no submundo do crime organizado, circulava a informação de que Sérgio Roberto de Carvalho estaria disponível para “oferecer uma elevada quantia de dinheiro a quem se dispusesse a colaborar e a participar num plano de fuga”, abrindo-lhe as portas do regresso à liberdade.
As autoridades húngaras foram imediatamente alertadas para esta possibilidade, levando muito a sério a situação, o que resultou na limitação dos movimentos do Major Carvalho, tanto dentro da prisão, como fora, por ocasião das sessões que decorriam em sala de tribunal.
Os receios, aliás, foram confirmados pelas medidas de segurança que envolveram esta operação de extradição para a Bélgica, que incluíram uma comitiva fortemente armada até que se concretizasse a entrega de Sérgio Roberto de Carvalho entre as autoridades húngaras e belgas.
Passado em Portugal
O ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, no Brasil, terá liderado, durante décadas, uma rota de tráfico de cocaína que ligava a América do Sul e a Europa, com Portugal a servir (em muitas ocasiões) como “porta de entrada” para o Velho Continente, como contou a VISÃO numa grande reportagem de investigação publicada em março de 2021.
O “Escobar brasileiro” chegou a viver escondido em Lisboa, onde tinha escritório e apartamentos, na Avenida da República. Localizado pela polícia portuguesa, terá conseguido fugir, primeiro, para Kiev, na Ucrânia, e, depois, para o Dubai.
Usando várias identidades, o ex-polícia militar terá vivido em Espanha (em Marbella), com o nome falso de Paul Wouter. No país vizinho, chegou a ser preso, mas, depois de conseguir permissão para responder ao julgamento em liberdade, escapou às autoridades espanholas simulando a sua própria morte – ou, neste caso, a de Paul Wouter.
Sérgio Roberto de Carvalho é ainda apontado como o “patrão” do narcotraficante português Rúben Oliveira (Xuxas), que liderava um grupo encabeçado por familiares e amigos do bairro dos Olivais, em Lisboa. Xuxas também seria detido pela PJ, apenas uma semana depois do Major Carvalho.
Notícia atualizada às 13h30, do dia 16 de junho, com a publicação do vídeo realizado pelas autoridades húngaras, com os pormenores da operação para a extradição do Major Carvalho para Bruxelas, na Bélgica.