A Academia das Ciências de Lisboa foi palco da entrega dos Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras 2022. Uma tarde de sororidade e celebração de mulheres que, todos os dias, vão um pouco mais longe, fazem um pouco mais e inspiram outros a ser melhor.
O prémio de Artes foi para Joana Marques, humorista, mas foi o seu agente, Miguel Isaac, que recebeu o troféu em seu nome. No entanto, Joana Marques, enviou um vídeo onde afirmou, divertida: “Eu não me considero propriamente inspiradora, portanto o que me falta em inspiração tentei compensar com esta paisagem. Espero que tenha sido do vosso agrado. Muito obrigada, e para o ano se precisarem de uma lista de pessoas verdadeiramente inspiradoras, posso fornecer.”
Lisa Ferreira Vicente, ginecologista e obstetra, venceu na Ciência, categoria ‘a cargo’ de Maria de Belém Roseira, que fez questão de saudar todas as nomeadas. “É preciso coragem para escolher estas áreas de trabalho ocupadas por homens. Depois de tantos anos de repressão, tantos anos de dedo apontado, tantos anos de ‘não és capaz’, as pessoas da minha geração estão orgulhosíssimas com aquilo que as mulheres estão a fazer, a dar cartas em áreas como a astrofísica, astronomia ou investigação em medicamentos de moléculas curativas.” Já a vencedora, revelou-se genuinamente surpreendida com a vitória: “Não tinha preparado um discurso porque no meio de pessoas que descobrem planetas e novas moléculas, eu pensei ‘sou só médica’”. (risos)
A vencedora na categoria de Desporto foi Teresa Bonvalot, que não pôde estar presente por motivos profissionais. Foi Ana Margarida Santos, Fashion & Brand PR Manager da C&A, que anunciou a sua vitória, aproveitando para fazer a sua própria homenagem a todas as nomeadas da categoria. “Mulheres mais que maravilhosas, mais que inspiradoras – são únicas – que fazem um trabalho excelente nas suas áreas, que são muito determinadas porque é impossível continuar a marcar a diferença se não o forem.” A irmã da laureada, Leonor Bonvalot, fez questão de estar presente para receber o troféu e mostrou-se “muito feliz” pelo sucesso e reconhecimento da irmã.
Clara Raposo, vice-presidente do Banco de Portugal, foi a premiada em Negócios, recebendo o troféu das mãos de Pedro Azevedo, Diretor Geral dos Laboratórios Native. Professora de finanças, economista, Clara Raposo teve funções de gestão e está agora no Banco de Portugal. Mas afirma que o mais importante numa sociedade é a educação dos mais novos, e é principalmente aí que espera ter feito a diferença. “Isto é um prémio para mulheres inspiradoras. E eu espero ter inspirado ao longo da minha vida muitas jovens mulheres e muitos jovens homens, estudantes de economia, gestão, finanças, matemática aplicada, etc, em Portugal e não só. Isso é que eu acho mais importante: termos este papel de formação nas novas gerações, para haver cada vez mais jovens mulheres e homens cheios de energia e de capacidade de se afirmarem, que discutem e debatem e contribuem para encontrar soluções melhores para tudo o que temos de fazer”.
Catarina de Albuquerque, CEO da Sanitation and Water for All, distinguiu-se na categoria Sustentabilidade. Rafael Correia da Silva, gestor de produto e marketing da Endesa Portugal, entregou este prémio, mas infelizmente a vencedora não pôde estar presente na cerimónia por motivos de saúde. Rafael Correia da Silva felicitou as nomeadas e sublinhou a importância do tema Sustentabilidade no mundo atual, “é para nós um privilégio estar presentes neste Prémio que é uma inspiração, em especial nesta categoria de Sustentabilidade que faz parte do nosso ADN, do nosso posicionamento, fulcral para nós e tão estratégico para o nosso país e para o mundo.”
O troféu de Solidariedade ficou com Filipa Pinto Coelho, Presidente da VilacomVida, que trouxe o Café Joyeux para Portugal. A entrega ficou a cargo da empreendedora social e júri Conceição Zagalo. “Solidariedade é pensar nos outros, é viver em função dos outros e é muitas vezes despojar-se de si própria para criar bem-estar aos outros, com motivações pessoais, com certeza – ser solidário significa ser-se egoísta, querer o meu próprio bem-estar assente no bem-estar que posso proporcionar aos outros. Mas depois é acordar e adormecer em função dos outros. A motivação – um filho, um negócio, seja o que for – há sempre uma motivação, mas quando se vai para além dessa motivação e se proporciona o bem-estar ao ecossistema do que motivou a avançar, então é-se verdadeiramente solidário. Quando se faz isso com a alegria, com empenho, com rasgo, com visão e com vontade de ter sucesso para si e para os outros, temos Mulheres.”
Filipa Pinto Coelho subiu ao palco visivelmente emocionada. “A solidariedade foi um mundo que conheci há relativamente pouco tempo, não por não me considerar uma pessoa solidária, acho que todos nós temos essa solidariedade dentro de nós, mas faz hoje sete anos que nasceu o meu filho Manel, com um cromossoma a mais – é hoje que ele faz anos, de facto as coisas não são por acaso. E o meu filho Manel – não quero dizer que não tenhas duas filhas incríveis e quatro enteados extraordinários – trouxe aqui qualquer coisa de dentro que vivo todos os dias um bocadinho e que me faz agradecer ainda mais a vida.”
Nesta edição, houve ainda um momento especial, dedicado a homenagear o percurso profissional notável de Maria João Avillez com o Prémio Carreira. “Ela é uma senadora do jornalismo político, com tudo o que isso tem de verdadeiro, de autêntico e de inspirador. Ou seja, é uma jornalista competente, talentosa, independente, credível, que suscita admiração e respeito em todos os setores e parâmetros políticos”, frisou o advogado e membro do júri Luís Marques Mendes. “Não está ao alcance de muitos e é fruto de muito trabalho, muito mérito e muita competência”.
Mulheres que mobilizam
As vencedoras desta edição foram escolhidas por um júri de referência: Conceição Zagalo, Maria de Belém Roseira, Luís Marques Mendes, Mafalda Anjos e Natalina de Almeida. O troféu entregue a cada uma das laureadas é uma peça única da ceramista Anna Westerlund, cuja ideia “foi criar quase uma figura feminina, muito estilizada e minimalista”.
A cerimónia foi apresentada pela jornalista Rosa Oliveira Pinto e destacou o que de mais relevante se faz no nosso país no que toca a Ciência, Desporto, Negócios, Sustentabilidade, Solidariedade e Artes, com o apoio essencial dos patrocinadores Endesa – que também apadrinha o prémio na categoria Sustentabilidade –, Lierac e C&A.
No discurso de boas-vindas, Natalina de Almeida, membro do júri dos Prémios e diretora da revista ACTIVA, sublinhou que iniciativas como esta continuam a ser tão pertinentes como necessárias nos dias de hoje.
“Segundo o último relatório sobre igualdade de género da ONU, no ritmo atual de progresso, serão precisos 286 anos – quase três séculos – para que as mulheres tenham os mesmos direitos e proteções legais do que os homens”, começou por dizer. “Imaginem, todas as mulheres e homens aqui presentes, que nem às vossas filhas, nem às vossas netas será permitido viver em plena igualdade. É uma realidade muito dura e um número longo que é preciso reduzir”, acrescentou. “Nos últimos anos, temos impulsionado uma mudança profunda, lutado pelos nossos direitos, progredido para a igualdade, mas a chave para conseguir avançar mais e mais depressa é dando visibilidade ao talento feminino, às mulheres inspiradoras, destacando exemplos reais para nos inspirarmos”, explicou. “Celebrar estas mulheres nomeadas, que quebraram barreiras, tornando-se referência nas suas áreas, também tem como objetivo viabilizar o talento feminino para construir uma sociedade baseada na igualdade”.
Já Mafalda Anjos, membro do júri dos Prémios e diretora da revista VISÃO, refletiu sobre o que significa ser inspirador. “Pessoas inspiradoras são pessoas que sugerem ideias, que entusiasmam, que estimulam, que iluminam e mobilizam. São, no fundo, guias, mentoras, conselheiras. São pessoas únicas que abrem caminhos e têm esta centelha, esta coisa mágica, de conseguir mobilizar pessoas à sua volta. E foi assim que o júri procurou escolher as pessoas que serão aqui, hoje, nomeadas”.