A ciência explica que, quando alguém se apaixona, muita coisa pode acontecer a nível físico, como, por exemplo, serem ativadas áreas do cérebro relacionadas com comportamentos de vício. Há dois milénios, o filósofo romano Lucrécio descrevia exatamente o estado de paixão como um vício, uma espécie de loucura.
“Quando um amante está focado no seu parceiro, sente-se louco, experimenta mudanças de humor com acessos de euforia ao mesmo tempo, age de forma obsessiva e compulsiva, vive numa realidade distorcida e, muitas vezes, torna-se dependente da outra pessoa, da mesma forma que uma pessoa viciada em cocaína se comporta”, explica, em declarações ao site Live Science, Deborah Lee, especialista em saúde reprodutiva.
Mas enquanto uns conhecem bem o sentimento, outros têm mais dificuldades em perceber se estão mesmo apaixonados ou se o que sentem pela pessoa foi um amor imediato.
Vários estudos científicos dão sinais que nos podem ajudar a perceber que estamos apaixonados – e isso é muito diferente de amar alguém, como referem os especialistas. Por exemplo, estar apaixonado não só nos faz feliz como pode também permitir que não sintamos dor tão intensivamente, de acordo com uma investigação conduzida por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. O estudo envolveu quinze pessoas que estavam nos primeiros nove meses de uma nova relação e cada uma delas teve a tarefa de observar uma foto do companheiro/a, tendo descoberto que esse ato poderia reduzir a dor moderada em 40% e diminuir a dor severa em 15 por cento.
Uma outra investigação, realizada por investigadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, descobriu que pequenas peculiaridades podem realmente fazer uma pessoa apaixonar-se por alguém, mais do que os atributos físicos. E isto acontece porque cada pessoa tem as suas próprias preferências.
Em 2017, Frank Tallis, antigo professor de Psicologia Clínica do King’s College London, agregou 12 casos clínicos para lançar um livro sobre formas doentias de viver o amor, O Romântico Incurável. Em entrevista à VISÃO nesse ano, o especialista explicou que “o romance é uma fantasia, uma ilusão do amor verdadeiro” e que este, ao contrário da paixão louca, “passa por amar a pessoa tal como ela é, sem idealizar”.
“No início da paixão, somos escravos do amor, sentimos atração sem ter coisas em comum nem gostar realmente da outra pessoa. Quando se diz “vimo-nos e logo ali percebemos que estávamos destinados a ficar um com o outro”, estamos a falar de desejo físico mútuo, não de amor. Só mais tarde é que o amor se converte numa escolha – está-se com alguém sem se ser ficar refém do desejo”, disse ainda.
Além disso, Tallis afirmou que se o amor for vivido “de forma extrema, conduz a mudanças no comportamento e na personalidade e, por vezes, a estados emocionais próximos dos que encontramos na doença mental”.
E em relação ao amor à primeira vista, esse é também uma distorção da realidade? “Esse estado tem uma base evolutiva”, esclareceu Frank Tallis. “Os nossos antecessores precisavam de viver em casal, durante três ou quatro anos, para ajudar a criar a ganhar maturidade cerebral e corporal suficiente para sobreviver. Após estes quatro anos, em média, a paixão perde importância. Curiosamente, é também nesta altura da vida conjugal que se registam mais divórcios, ainda que nem todos os casais se separem! Tomamos decisões sem ficar escravos das emoções e da nossa herança evolucionista”, acrescentou.
Alguns investigadores defendem ainda que o amor à primeira vista se trata apenas de luxúria e que o amor real, pleno, vem depois. Uma equipa da Universidade Rutgers, em New Jersey, EUA, sugeriu que o amor pode ser dividido em três categorias: luxúria, atração e apego e, mais tarde, numa revisão de estudos publicada em 2016 no Indian Journal of Endocrinology and Metabolism, investigadores concluíram que a luxúria, atração e apego são sentimentos que estão extremamente ligados, mas cada um deles é “mediado pelos seus próprios neurotransmissores e circuitos”.
A equipa explicou que, enquanto a testosterona e o estrogénio – hormonas coordenadas pela amígdala, a área do cérebro que regula as emoções – são responsáveis pela luxúria, os neurotransmissores dopamina, noradrenalina e cortisol interligam-se e estão em alta quando uma pessoa se sente atraída por alguém. Mas quando se trata de apego, são a ocitocina e a vasopressina, libertada em casos de desidratação e queda da pressão arterial, que surgem com maior abundância, esclareceu a equipa.
Uma atração inicial por alguém não é, por isso, amor, concluem os especialistas. “Os psicólogos não defendem que é possível experimentar o amor verdadeiro quando vemos outras pessoas pela primeira vez”, diz Deborah Lee. “Isto acontece porque o amor desenvolve-se com o tempo, à medida que começa a amar a mente, os valores e as habilidades da outra pessoa. O verdadeiro amor não é apenas atração sexual e paixão”, esclarece.
Eric Ryden, psicólogo clínico especialista em terapia de casais, afirma, por outro lado, que quando se fala de amor à primeira vista, é mais provável que o sentimento seja de luxúria “Esses sentimentos adoráveis e inebriantes não duram”, garante, à Live Science. “Se está à procura de um parceiro de longo prazo, o amor à primeira vista não é um sinal de que encontrou o caminho certo, porque está mais relacionado com a atração física e com a luxúria do que com o amor romântico duradouro”, defende.
O psicólogo explica ainda que, muitas vezes, o que as pessoas entendem como amor é um cocktail de libertação de hormonas para fornecer ao sistema nervoso sentimentos de prazer e segurança. “O amor afeta tanto a mente como o corpo de maneiras dramáticas”, remata Ryden.