Dois comités da Igreja da Anglicana estão a explorar a decisão de a instituição deixar de utilizar pronomes masculinos quando se referir a Deus, nas celebrações litúrgicas.
Este projeto, que surge depois de alguns elementos da Igreja questionarem se faria sentido começar a usar termos neutros, sem género, nas referências a Deus, pretende, à partida, realizar uma atualização para uma linguagem mais inclusiva nas missas e outros eventos religiosos oficiais.
Numa carta enviada à Comissão Litúrgica, que desenvolve a linguagem utilizada nas celebrações oficiais religiosas, Joanna Stobart, vigária de Ilminster e Whitelackington, no condado de Somerset, questionou o comité sobre a possibilidade de “dar mais opções” aos que querem “falar com Deus numa forma sem género, particularmente em orações que utilizam pronomes masculinos”.
Em resposta, o arcebispo de Lichfield afirmou que a questão da linguagem de género nas referências a Deus já tem sido discutida “há muitos anos, em colaboração com a Comissão da Fé e da Ordem” e garantiu, citado pelo The Mirror, que “depois de algum diálogo com as duas comissões desta área”, o novo projeto vai para a frente já a partir desta primavera, sendo discutido durante os próximos cinco anos.
Apesar disso, um porta-voz da Igreja Anglicana afirmou, em declarações à Sky News, que não se pretende “abolir ou reformular substancialmente as liturgias atualmente autorizadas”. “Os cristãos reconheceram desde os tempos antigos que Deus não é homem nem mulher, mas a variedade de maneiras de se dirigir e descrever Deus encontradas nas escrituras nem sempre se refletiu no nosso culto”, explicou ainda a Igreja, garantindo que “nenhuma mudança poderia ser realizada sem uma legislação extensa.”
Ainda assim, e não se conhecendo que mudanças específicas vão ser adotadas, o reverendo Ian Paul disse, em declarações ao The Telegraph, que estas alterações representam um abandono da própria doutrina da Igreja, afastando-a do que é fundamentado “nas escrituras”. “O facto de Deus ser chamado Pai, não pode ser substituído para Mãe sem que seja mudado o significado, nem pode ter o género neutralizado para Progenitor sem perda de significado. Pai e mãe não são termos intercambiáveis e relacionam-se com os filhos de formas diferentes”, defendeu.
Por outro lado, a associação inglesa Women and the Church (WATCH, em inglês), já afirmou “que é uma leitura teológica errada dizer que Deus é exclusivamente masculino, o que está na origem de contínua discriminação e sexismo contra as mulheres”, argumenta (‘Mulheres e a Igreja’, WATCH em inglês).