Teresa Tavares, de 51 anos, docente na Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, é uma dessas professoras. Que afirma estar cansada por a sua profissão não ser “respeitada, nem dignificada”, mas que é o “amor à camisola” que a faz continuar.
“Esperemos que esta união entre os professores faça abrir os olhos a muita gente e consigamos fazer parte realmente da função pública”, afirmou, adiantando que é preciso que haja “uma progressão real na carreira e que, realmente, não haja só dinheiro para ‘TAP’s’, mas para a escola, porque penso que saúde e educação [são] o mais importante”, defendeu.
Teresa Tavares foi uma das professoras que aderiu hoje à greve no distrito de Beja convocada por uma plataforma de sindicatos que inclui a Federação Nacional de Professores (Fenprof).
O protesto integrou uma concentração e marcha em Beja, com a participação de algumas centenas de professores, a maioria deste concelho, mas outros vindos de escolas de diversos municípios do distrito.
Ao som de tambores, apitos, buzinas ou pandeiretas a acompanharem palavras de ordem e cartazes, os manifestantes concentraram-se nas Portas de Mértola, em pleno centro da cidade, onde discursaram o secretário-geral adjunto da Fenprof, José Feliciano Costa, e o presidente do Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS), Manuel Nobre.
O responsável do SPZS falou numa adesão à greve distrital de “90%”, que levou “ao encerramento de diversas escolas”, no concelho de Beja e em outros concelhos.
“Não pagamos, não pagamos” foi um dos gritos que mais se ouviu, sendo visíveis cartazes como: “Respeitar os professores é respeitar a educação” ou “Professores em luta por amor à educação — docentes do distrito de Beja dizem presente”.
Ermelinda Pepe, de 42 anos e “ainda” professora contratada na escola de Vales Mortos, em Serpa, apresentou-se na concentração ‘armada’ com o cartaz “Quem ensina a dar asas não pode rastejar, eu luto pela educação” e, em declarações à Lusa, não quis saber de ‘falinhas mansas’.
“Nós não nos vamos rebaixar, vamos continuar a lutar. Eu tenho 42 anos, sou contratada, não vou chegar nem a meio da minha carreira e não vou baixar os braços, enquanto tiver voz ninguém me calará”, prometeu.
Questionada sobre o que espera das reuniões de hoje e de sexta-feira entre sindicatos e Governo, a docente também foi clara em afirmar que espera abertura do executivo: “Não aceitamos migalhas. Queremos respostas, portanto, estamos na luta e vamos continuar a lutar”.
As professoras Mónica Elias, de 55 anos, e Alexandra Ribeiro, de 47, a primeira munida de um apito e a segunda de uma pandeireta, também disseram à Lusa que querem que as suas reclamações sejam ouvidas pelo Governo.
“Estou descontente com tanta coisa”, desabafou Mónica Elias, apontando “o tempo de serviço que não foi contabilizado, os ordenados que não subiram, a burocracia das escolas, a falta de apoios nas escolas e de tempo de trabalho para os professores darem apoio aos alunos”, entre muitos outros problemas.
Alexandra Ribeiro, da zona de Braga e colocada em Serpa, chamou a atenção para os professores deslocados, em especial para os que são pais: “Eu não sou mãe, mas estou a 700 quilómetros de casa e não estou a ver os meus pais a envelhecerem”.
Com quase 60 anos, a professora Helena Carneiro, da Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, juntou a sua voz às dos colegas e sublinhou que foi “o amor” que a fez participar na concentração: “O amor à educação, aos meus alunos”.
Os professores estão em greve desde 09 de dezembro para exigir melhores condições de trabalho e salariais, o fim da precariedade, a progressão mais rápida na carreira, e em protesto contra propostas do Governo para a revisão do regime de recrutamento e colocação, que está a ser negociada com os sindicatos do setor.
Atualmente, estão a decorrer três greves distintas convocadas por várias organizações sindicais.
Na segunda-feira arrancou uma greve total que se realiza por distritos durante 18 dias, convocada por uma plataforma de oito sindicatos.
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