O Natal pode ser uma quadra de amor e felicidade, mas é também uma ocasião propícia a desacatos entre familiares, muitas vezes até sobre as mais pequenas coisas. Nesses casos, existem duas opções para quem quer ficar de fora destas discussões: marcar férias num destino longe… ou aprender a lidar com estas circunstâncias.
A abordagem da psicoterapeuta Fe Robinson para lidar com ambientes hostis é “evocar uma bela bolha onde a cor, a textura e a temperatura são simplesmente maravilhosas para si”. “Lembre-se disso se o ambiente na sala começar a ficar gelado”, explica, em declarações ao The Guardian. A sugestão é que mantenha os ombros baixos e pratique uma respiração profunda, evitando o álcool.
Annalisa Barbieri, escritora, colonista no jornal britânico e criadora do podcast Conversations with Annalisa Barbieri, em que entrevista especialistas de diversas áreas, criou cenários imaginários e tentou, com o seu auxílio, criar mecanismos para lidar com os familiares que criam mais perturbações nestes eventos festivos.
“Que casa linda. A fatura do aquecimento é que deve ser uma fortuna”. A escritora explica que qualquer comentário negativo é um reflexo da pessoa que o está a fazer e não sobre quem ouve. Os comentários sarcásticos são projetados para tentar derrubar as outras pessoas. “Eles [familiares inoportunos] estão a lidar com sentimentos difíceis, tentando ‘projetar-se’ na outra pessoa. Esta é uma poderosa defesa psicológica”, analisa o psicoterapeuta Mark Vahrmeyer.
No caso dos comentários negativos, como explica Barbieri, a melhor coisa a fazer é dirigir o tema para eles e fazer-lhes uma pergunta. Por exemplo, para os comentários: “Não engordaste? Pareces mais velho! Começaste a ficar careca?”, a resposta poderia ser: “Uau, estás atento às coisas, não estás? Como está tudo contigo? Como te tens sentido?”. Já para o comentário “A tua casa deve dar muito trabalho”, pode responder: “Até dá, mas eu adoro-a. Como é a tua casa?”, sugere a especialista.
“Não percebo porque é que discordas de tudo”. A cronista explica que, neste tipo de casos, o melhor mesmo é permanecer em silêncio. Na sua opinião, diz, “o silêncio, em resposta a uma visão diferente pode parecer que concordamos com a ideia, mas torna as coisas mais fáceis. nestes momentos. Porque a) o Natal não é o momento ideal para discussões; b) a pessoa não vai mudar de ideias ao longo do dia; e c) um parente que não entende isso e defende uma agenda política/ideológica está apenas a pedir atenção”, analisa. Além do silêncio, o que pode fazer é responder: “É bom saber o que tu farias/ É bom saber o que pensas.”
“A criança já não devia estar na cama?!”. Questionar assuntos relacionados com a maternidade e/ou a paternidade é muito recorrente neste tipo de encontros familiares. “Criticar a paternidade de outra pessoa”, diz o psicoterapeuta de relacionamento Silva Neves, “tem o potencial de arruinar o Natal. Na maioria dos casos, a opinião sobre a paternidade é desnecessária.”
Assim, a melhor coisa a fazer é responder: “Sim, é assim que fazemos e funciona para nós”. Não importa se, por uma ou duas noites, os seus filhos vão para a cama mais tarde ou se comem apenas um monte de doces. Não vai desfazer a educação regular que praticam, defendem os especialistas.
“Malta, este é o João. João, esta é a minha família”. Trazer um novo amigo ou parceiro pode ser muito menos stressante do que teme, porque as pessoas tendem a comportar-se melhor quando há uma nova pessoa na sala. No entanto, como explica Barbieri, de uma maneira estranha e superior, a família, geralmente os irmãos, podem começar a rebaixá-lo para ganhar a atenção da nova pessoa. Em resposta a isso pode dizer para o seu amigo/amiga: “Olha, o Rui deve gostar de ti, ele está a exibir-se à tua frente”. Ainda assim, deve avisar a nova pessoa sobre quais assuntos devem ser evitados, diz a especialista.
“Ainda sozinho? Não arranjas ninguém?”. Esta deve ser uma das questões mais sensíveis para quem passa o Natal solteiro. No entanto, pode ser resolvido. “Se alguém fizer um comentário, levante a cabeça, sinta-se orgulhoso e proponha um brinde para celebrar os solteiros. Não seja conivente com as pressões e mitos da sociedade. Uma delas é que estar num relacionamento é uma marca de sucesso e estar solteiro é ‘triste’. A verdade é que algumas pessoas em relacionamentos vivem vidas miseráveis e há muitos solteiros muito felizes”, esclarece Silva Neves. Assim, ao comentário: “Tu ainda não conheceste a pessoa certa?”, a melhor resposta é: “Não, tu já?”, algo que Barbieri afirma funcionar bem.
O conselho que a especialista dá, no geral, é não dar azo a que os outros interferiram com os seus sentimentos. “Não sinalize os seus fracassos, reais ou imaginários. Engrandeça-se. Ocupe espaço. E, se estiver prestes a entrar numa situação complicada de família, fale com uma parte dela – parceiro e filhos, se eles tiverem idade apropriada – de modo a que estes saibam o que precisa deles”, aconselha Barbieri.