Para os portugueses, Pedro IV; para os brasileiros, Pedro I. O coração preservado numa ânfora de cristal na Igreja da Lapa, na cidade do Porto; os ossos depositados numa urna de granito negro no mausoléu do Ipiranga, em São Paulo. Em alguns livros de História, um herói destemido; em outros, um homem boémio, irresponsável e escandaloso. Para muitos dos admiradores, símbolo de permanentes valores democráticos e liberais; para outros, objeto de renovadas tentações autoritárias. Assim tem sido o legado histórico do primeiro imperador do Brasil e 29º rei de Portugal, o protagonista dos dramáticos acontecimentos que, 200 anos atrás, transformaram os destinos desses dois países irmãos. Viveu pouco, apenas 35 anos, mas raras personagens passaram para a posteridade de maneira tão intensa e controversa. Foi um rei que lutou contra tudo e contra todos, fez a independência de um país, reconquistou outro nos campos de batalha, esforçou-se por modernizar as leis e as sociedades que governou, amou muitas mulheres, dedicou-se à política com paixão, comportou-se como bom soldado e chefe carismático, viveu à frente do seu tempo e morreu cedo.
Nascido em 12 de outubro de 1798, no Palácio de Queluz, no quarto Dom Quixote, o mesmo aposento em que haveria de morrer apenas 35 anos mais tarde, Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon proclamou a independência do Brasil tinha ele 23 anos. Jovem e inexperiente, fora deixado sozinho no Rio de Janeiro em abril de 1821, na condição de príncipe regente do Brasil, após, sob pressão das recém-convocadas Cortes Constituintes de Lisboa, o pai, a mãe e toda a Corte portuguesa terem embarcado de volta para Portugal.