“Os cães cegos agem completamente com normalidade. Podem brincar ao busca [atirar algo para o cão correr atrás e trazer de volta]. Podem orientar-se no ambiente à nossa volta e não vão contra nada”. Foi esta constatação de um comportamento normal em cães que perderam a visão que levou a autora do estudo, Philippa Johnson a debruçar-se sobre o papel do olfato dos cães, juntamente com uma equipa de investigadores da Universidade Cornell, Nova Iorque.
O estudo, publicado no The Journal of Neuroscience, mostrou conexões entre o bulbo olfativo (parte do cérebro onde os cheiros são reconhecidos) e o lobo occipital do cérebro (essencial para o processamento de estímulos visuais), uma ligação que ainda não foi encontrada em nenhuma outra espécie animal.
A equipa realizou exames de ressonância magnética a 23 cães que permitiram ainda descobrir uma ligação entre o bulbo olfativo e o sistema límbico, uma conjunto de estruturas cerebrais relacionadas com memórias e emoções.
“Quando os humanos entram numa sala usam, principalmente, a visão para descobrir onde é a porta, quem está lá ou onde estão os móveis. Mas nos cães o olfato está, de facto, relacionado com a visão”, conclui Johnson, no artigo sobre a investigação publicado no jornal online da universidade.
O que a equipa de investigadores não conseguiu compreender é como que estes animais usam os dois sentidos em conjunto.
“Sabemos agora que o olfato faz parte do processamento visual e assim os cães podem ter uma experiência completamente diferente no mundo em comparação com os humanos”, acrescenta Johnson.
As conexões cerebrais encontradas nesta investigação abrem caminho a possíveis estudos futuros. “Esta variação no cérebro permite-nos ver o que é possível no cérebro dos mamíferos e interrogar-nos que talvez outras espécies tenham variações significativas que não tenhamos explorado”, conclui a investigadora.