Fernando Cabecinha torna-se, oficialmente, este sábado, o novo grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL). A cerimónia de tomada de posse daquele que vai liderar a mais antiga obediência da maçonaria portuguesa, no triénio 2021-2024, acontece na reunião da Grande Dieta (o Parlamento maçóniço), que, desta vez, não decorre no Palácio maçónico, no Bairro Alto, como habitualmente, mas no hotel Corinthia Lisbon, em Sete Rios, Lisboa – onde são esperados cerca de 150 membros da organização.
Fernando Cabecinha, 67 anos, gestor de empresas, é um histórico da organização – presidiu à Grande Dieta quatro vezes – e substitui Fernando Lima Valada, o primeiro grão-mestre a cumprir três mandatos no pós-25 de Abril, no cargo desde 2011. A candidatura de Cabecinha, que contou com o médico Germano de Sousa — responsável pelos laboratórios que asseguraram parte dos testes à Covid-19 — como mandatário, elegeu ainda como adjuntos João Nuno Aurélio Marcos, advogado, e Carlos Rocha Nunes, sócio de uma consultora britânica.
Fernando Cabecinha foi eleito grão-mestre do GOL no passado dia 20 de novembro, com 794 votos (59%), vencendo a corrida, à segunda volta, contra o advogado Carlos Vasconcelos (que somou 530 votos). Houve ainda 27 votos brancos e nulos. Pelo caminho, na primeira volta, já tinha ficado Luís Parreirão, ex-secretário de Estado dos governos de António Guterres. Recorde-se que, ao contrário da habitual discrição que marca o quotidiano desta organização, as eleições acabariam por ficar marcadas pela polémica na praça pública.
O fim de uma Era
O início do mandato de Fernando Cabecinha significa um corte com o passado recente. Carlos Vasconcelos, atual “vice” de Fernando Lima, , assumia-se, nas últimas eleições, como representante de uma linha de continuidade que os membros do GOL acabariam por rejeitar. No fim de uma Era, Fernando Lima enviou uma carta de despedida aos seus “irmãos”, a que a VISÃO teve acesso, onde resume aqueles que, do seu ponto de vista, foram os factos e feitos da sua liderança ao longo da última década.
“Diga-se o que se disser o resultado aí fica: respeito pela autonomia das Lojas e pelos diversos Órgãos de Soberania; uma organização administrativa, financeira e patrimonial, francamente melhorada, em muitos aspetos revolucionária; uma situação económica e financeira que permite muitos sonhos, sem nunca esquecer que as para-maçónicas são constitucionalmente depositárias do nosso património; ações de solidariedade individual e coletivas como talvez nunca tivemos; estudos de notoriedade que demonstram uma apreciável normalização e comunicação do Grande Oriente Lusitano e de muitos dos seus membros na sociedade profana, quer no seu conhecimento, quer na intransigente defesa da liberdade de consciência, da liberdade contra todas as formas de tirania, da igualdade contra todas as formas crescentemente chocantes das desigualdades, da fraternidade perante todos e pela paz”, referiu no documento.
Recordando que “talvez nunca o Grande Oriente Lusitano tivesse estado tão presente, e talvez nunca se tenha publicado tanto sobre maçonaria em tão curto período, graças aos excelentes trabalhos e iniciativas de irmãos nossos”, Fernando Lima abandona a liderança do GOL disponibilizando um documento sobre o atual estado da organização, não deixando de transmitir uma mensagem de confiança nos seus sucessores e no futuro da maçonaria. “Como último ato, será distribuída um livro síntese de tudo que foi feito no mandato e estado da Obediência. Quem vier saberá melhor o que tem para que as mudanças que houver sejam sempre para melhor”, escreveu.