A lava do vulcão de La Palma, nas Canárias, já chegou ao mar. Está a cair de um penhasco com cerca de cem metros de altura, próximo da praia de El Guirre, em Tazacorte, sendo que toda a ilha está em situação de catástrofe.
O encontro entre a lava e o mar dá origem a reações hidrotérmicas e químicas: “Forma-se uma coluna de vapor espetacular, mas podem ocorrer colapsos por acumulação na frente [do vulcão] e as interações com a água podem desencadear explosões”, explicou o geólogo e sismólogo Raúl Pérez, do Instituto Geológico Mineiro de Espanha, ao jornal El País.
O primeiro impacto é térmico, com toneladas de rochas acima dos mil graus centígrados a entrarem no mar, com a água a rondar os 23 graus. A segunda reação é química, com os componentes da lava a interagirem, por exemplo, com o cloreto de sódio do mar.
As colunas de vapor que resultam do encontro entre a lava e o mar transportam gases que podem ser tóxicos para os olhos, pele e pulmões
As colunas de vapor que resultam deste encontro transportam gases que podem ser tóxicos para os olhos, pele e pulmões. Por isso, as autoridades espanholas aconselham a população a manter-se em casa e a não se aproximar do rio de lava.
Vários estudos científicos têm analisado as consequências das erupções vulcânicas a longo prazo, que podem dar pistas sobre as consequências da atividade vulcânica em Cumbre Vieja.
Uma investigação do Instituto Oceanográfico Espanhol (IOE), sobre a erupção do vulcão da ilha de El Hierro, também nas Canárias, ativo entre outubro de 2010 e março de 2011, permite especular sobre o impacto da lava no ecossistema marítimo.
No entanto, em El Hierro, o contacto com o mar foi imediato, já que a erupção era submarina, enquanto em La Palma só aconteceu vários dias após a entrada em atividade. Assim, as consequências ao nível da fauna e da flora serão previsivelmente menos graves em Cumbre Vieja.
Peixes em fuga
É habitual os vulcões provocarem alterações na concentração de metais como o ferro, cobre, cádmio e mercúrio. Também as emissões de dióxido de carbono aumentam, enquanto o oxigénio diminui drasticamente.
O estudo do IOE sobre o vulcão de El Hierro demonstrou que os organismos marinhos reagem de maneira diversa a estes fenómenos.
É difícil prever quando o ecossistema marítimo próximo de La Palma regressará ao normal, mas estudos anteriores indicam que, dentro de dois anos, a recuperação poderá ser total
Alguns animais marinhos fogem assim que detetam o aumento da temperatura da água, outros não conseguem escapar e acabam por morrer. Todavia, esta fuga é temporária. As espécies regressam quando o mar volta à temperatura habitual.
Já o fitoplâncton (microrganismos capazes de fazerem a fotossíntese que vivem na água), por exemplo, consegue sobreviver a elevadas temperaturas e a grandes concentrações de metais, aproveitando-se do aumento da presença de nutrientes.
Um artigo publicado na revista Science sobre a erupção do vulcão Kilauea (Havai), no verão de 2018, confirma uma grande proliferação de fitoplâncton durante os meses de atividade vulcânica, que se dissipa quando a lava deixa de fluir.
Outra das mudanças provocadas no mar é o aumento da reprodução de moluscos e invertebrados, que beneficiam da ausência de predadores, que fogem às altas temperaturas ou acabam por morrer.
É difícil prever quando o ecossistema marítimo próximo de La Palma regressará ao normal, mas estudos anteriores indicam que, dentro de dois anos, a recuperação poderá ser total. Contudo, tudo depende da duração da erupção nas Canárias, que continua a não dar tréguas.
A Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, está a ajudar as autoridades das Canárias a monitorizar a erupção vulcânica na Ilha de La Palma.