O objeto 2014 UN271, foi identificado na semana passada pelos astrónomos Pedro Bernardinelli e Gary Bernstein, a partir dos dados recolhidos entre 2014 e 2018 pelo Observatório Interamericano de Cerro Tololo, no Chile, no âmbito do Dark Energy Survey – uma colaboração de institutos de investigação e universidades nos Estados Unidos da América, Brasil, Reino Unido, Alemanha, Espanha, e Suíça – e é, possivelmente, o maior de fora do nosso sistema solar a fazer uma aproximação tão grande ao Sol.
A pesquisa que levou à descoberta do cometa precisou de 20 milhões de horas de processamento de dados pelo computador, segundo Bernardinelli.
Além das suas enormes dimensões (tão grande que os astrónomos chegaram a pensar tratar-se de um planeta), o que torna este objeto ainda mais peculiar é a sua órbita à volta do Sol, que leva 612.190 anos a completar.
O cometa vem da nuvem de Oort – um remanescente do disco protoplanetário de gás e detritos a partir do qual o Sistema Solar emergiu há 4,6 mil milhões de anos, com cerca de 100 mil milhões de objetos semelhantes a cometas, e que formam um enorme disco circunestelar na orla do nosso Sistema Solar – e os cometas com origem neste local têm o aspeto de uma rocha esférica de gelo.
O astrónomo italiano Luca Buzzi também confirmou, na terça-feira, através das observações com o telescópio SkyGems, na Namíbia, que o objeto 2014 UN271 tem “uma clara atividade cometária”, incluindo uma coma – nuvem de poeira e gás que circunda o núcleo de um cometa -, de modo que parte da superfície do núcleo de gelo evapora-se e, juntamente com outros materiais (geralmente poeira) que o rodeiam, transforma-se numa nuvem visível pela refração da luz, e o núcleo desaparece.
“Que ninguém espere ver uma enorme bola no céu durante o dia”, sublinha, no entanto, a astrofísica Luisa Lara, do Instituto de Astrofísica da Andaluzia (CSIC, que coordena a participação espanhola, descarta que a missão europeia possa ser dirigida ao 2014 UN271.
A Agência Espacial Europeia colocou em andamento, em 2019, a missão Comet Interceptor, que será lançada em 2028 para estudar um cometa ainda a ser determinado. A nave espacial ficará parada no espaço à espera de um objeto adequado, mas a astrofísica Luisa Lara já descartou que a missão europeia possa ser dirigida ao 2014 UN271.
A investigadora lembra que a tecnologia para detetar objetos celestes deu um salto de qualidade, ao permitir em pouco tempo feitos como a Observação do Oumuamua, um asteroide interestelar de 200 metros de comprimento, e do 2I/Borisov, um cometa vindo de outro sistema estelar. “Agora nada nos escapa. Estou convencida de que veremos mais em alguns meses. É simplesmente uma questão de olhar e eles estarão ali”, afirma.
O cometa encontra-se atualmente a 20 vezes a distância média entre a Terra e o Sol, mas calcula-se que em janeiro de 2031 essa aproximação vá ser de metade. Depois disso, vai começar a fazer a sua viagem de volta para longe da nossa estrela anfitriã e para as profundezas do sistema solar.
Se o seu tamanho for confirmado, é o maior cometa observado no Sistema Solar nos últimos tempos, desde que há registos científicos, como destaca Luisa Lara. Só para se ter uma ideia, o célebre cometa Hale-Bopp, que se transformou num espetáculo a olho nu em 1997, possuía um diâmetro de 60 quilómetros. O cometa Halley, observado em 1986, tinha 10 quilómetros.