A portuguesa Filipa de Abreu, consultora de design, é a embaixadora global da Tory Burch, a marca que, desde esta quinta-feira, está nas bocas do mundo, depois de ter posto à venda no seu site camisolas tradicionais da Póvoa de Varzim por dez vezes mais do que o valor a que é vendida em Portugal (80 euros), sem qualquer referência à sua verdadeira origem, falando ainda em inspiração mexicana.
Além disso, as semelhanças entre a sua coleção de loiças de mesa e as loiças Bordallo Pinheiro tradicionais, conhecidas pelas suas folhas de couve em tons de verde, e recentemente também em tons de rosa, são também notórias.
Filipa de Abreu, que tem uma casa em Lisboa, na Lapa, que já foi capa de revista Elle e usa a decoração e os motivos de inspiração nacional nas suas criações, apresentava-se até ontem como “designer” na sua conta de Instagram, onde faz regularmente a promoção de todos os produtos e linhas da Tory Burch, marca da qual é embaixadora global. O texto de apresentação de Filipa foi entretanto hoje editado para “criadora digital”.
Uma fonte próxima da embaixadora disse à VISÃO que Filipa de Abreu “não tem nada a ver nem com a decoração nem com as linhas de moda”. “Ela é apenas embaixadora da marca para promover coleções”, disse a mesma fonte, referindo que desenhou coleções de kaftan, mas há mais de um ano que a embaixadora não colabora como designer nas coleções da marca.
Esta sexta-feira, a própria Filipa de Abreu publicou, na sua conta de instagram, um e-mail recebido de Tory Burch, com um pedido de desculpas da criadora. “Antes de mais, lamento muito que tenhas sido apanhada nesta situação infeliz”, assim começa o e-mail. “Quero deixar claro que não estiveste envolvida nem na inspiração nem no design da nossa coleção Primavera 2020”, continua o e-mail, admitindo também que este foi um erro “inaceitável”.
Apesar de, esta quinta-feira, a marca ter feito um pedido de desculpa a todos os portugueses, a Câmara da Póvoa de Varzim e o Ministério da Cultura estão já a estudar uma “ação judicial” para “exigir a reparação dos danos” pela cópia da camisola poveira tradicional.
Num comunicado emitido pelo Ministério da Cultura, lê-se que “a ministra da Cultura, Graça Fonseca, tomou a iniciativa de solicitar a identificação das vias judiciais e extrajudiciais ao dispor do Estado português para defender a camisola poveira enquanto património cultural português”.