O plano de vacinação contra a Covid-19 em Portugal foi apresentado hoje pela Ministra da Saúde Marta Temido. “Este é mais um passo importante para um trabalho que começou há vários meses”, afirmou a governante, referindo que foi feito um primeiro investimento de 20 milhões de euros, “de uma despesa que pode chegar aos 200 milhões”, que serão usados para comprar 22 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 para o nosso País.
Os 22 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, referidos Marta Temido, são constituídos por seis tipos de vacinas, graças a diversos acordos de aquisição celebrados entre as farmacêuticas e a União Europeia, com uma preocupação em “garantir um portefólio alargado de vacinas”, nas palavras do presidente do Infarmed, Rui Santos Ivo, que explicou ainda, “neste momento, há seis acordos concluídos. O primeiro foi o da AstraZeneca, a 14 de Agosto, com 300 milhões [de doses] para a União Europeia e 6,9 milhões para Portugal. Em setembro, concluímos o da Sanofia/GSK, onde ainda não estão definidas doses, em outubro o do grupo Johnson&Johnson, com 200 milhões [de doses] para a União Europeia e 4,5 milhões para Portugal. Há ainda o da Pfizer, com 4,5 milhões para Portugal e o da CureVac, praticamente acertado, situando-se entre quatro e cinco milhões. O último contrato assinado, o da Moderna, tem uma quantidade mais pequena, 80 milhões, dos quais nos cabem 1,8 milhões [de doses]”.
A primeira destas vacinas a chegar a Portugal deverá ser a da Pfizer, já no mês de janeiro, que se encontra neste momento na fase de avaliação final para efeitos de autorização, pela Agência Europeia do Medicamento (EMA).
Tal como havia feito ontem, a ministra da Saúde frisou ainda o caráter universal, gratuito e facultativo das vacinas e confirmou que, numa primeira fase, estas serão administradas na cadeia do Serviço Nacional de Saúde.
O primeiro Ministro António Costa acrescentou que “há luz no fim do túnel, mas o túnel é muito comprido e penoso” e relembrou que “os 22 milhões de vacinas não chegam todos no primeiro dia, esta será uma operação que se vai desenvolver todo o ano”.
Três fases de vacinação
A apresentação das diversas fases de implementação do programa de vacinação contra a Covid-19 foi feita por Francisco Ramos, coordenador da task force responsável pelo seu desenvolvimento, que definiu como principais objetivos “reduzir a mortalidade e os internamentos, sobretudo nas Unidades de Cuidados Intensivos, numa primeira fase”.
Apesar de não querer comprometer-se com uma data de início, uma vez que tudo depende da aprovação de cada uma das vacinas por parte da EMA, Francisco Ramos assegura, “em janeiro estamos prontos para começar”, e prevê vacinar 950 mil portugueses na primeira fase, mais de dois milhões e meio na segunda e a restante população na terceira.
Na primeira fase, que deverá arrancar em janeiro, serão vacinadas pessoas com mais 75 anos, pessoas com mais de 50 que tenham insuficiência cardíaca, doença coronária, insuficiência renal ou doença respiratória crónica, residentes e profissionais de lares e unidades de cuidados continuados, profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados, forças armadas e de segurança e ainda “serviços essenciais cuja elencagem tem que ser afinada”, explicou Francisco Ramos.
Na segunda fase, serão vacinadas pessoas com mais de 65 anos e pessoas que tenham entre 50 e 74 anos e apresentem diabetes, neoplasia maligna, doença renal crónica, insuficiência hepática, obesidade e hipertensão arterial. “A estimativa é que estejamos a falar de 950 mil pessoas [vacinadas] na primeira fase e 1,8 milhões de pessoas [vacinadas] com mais de 65 anos, tirando as que já foram vacinadas na primeira fase e cerca de 900 mil pessoas neste grupo com estas características”, prevê o especialista, acrescentando que, numa terceira fase, será vacinado o resto da população.
No entanto alerta, “ se o ritmo de distribuição das vacinas for mais lento do que aquele que é o cenário base neste momento, ter-se-á que voltar a criar novos grupos prioritários”.
1200 centros de saúde prontos a vacinar
Ainda que não exista uma data específica de arranque da campanha de vacinação contra a Covid-19 em Portugal, Francisco Ramos revelou “num cenário otimista, esta primeira fase será janeiro e fevereiro, num cenário intermédio, decorrerá até março e se, de facto, as coisas correrem pior do que está programado, em termos de entregas, poderá ir de janeiro a abril”.
Quanto à segunda fase, Francisco Ramos afirmou que, apesar de estar dependente da conclusão da primeira, prevê-se que o número de doses de vacinas seja em muito superior aos dois milhões da primeira fase e, por isso, “tenhamos condições para que, nos mesmos três meses se consigam vacinar bastantes mais pessoas”.
Quanto aos pontos de vacinação existentes no Sistema Nacional de Saúde, são 1200 os Centros de Saúde que serão utilizados pelos cerca de 400 mil portugueses pertencentes ao grupo de risco identificado para ser vacinado na primeira fase, “os residentes e internados nos lares e unidades de cuidados continuados serão naturalmente vacinados aí, bem como os respetivos profissionais. As entidades onde trabalham os profissionais de saúde serão as responsáveis por lhes administrar as vacinas”, concluiu Francisco Ramos.
Nas fases seguintes ainda não há um plano detalhado, mas Francisco Ramos considera que “será precisa uma expansão da rede de pontos de vacinação, conforme o calendário e o ritmo de abastecimento de vacinas”.
Processo de chamada dos candidatos
O coordenador da Task Force explicou que, nesta primeira fase, haverá um sistema de “chamada e de marcação do processo de vacinação das pessoa. Ou seja, esperamos ter condições para que sejam os serviços de saúde a identificar quais são os 400 mil portugueses que pertencem ao grupo de risco, contactando-os de forma proativa”. Este processo será feito com base na informação disponível nos Centros de Saúde, mas “sabendo que há um número razoável de portugueses que não utiliza os Centros de Saúde, haverá uma alternativa através de declaração médica para que também essas pessoas possam ter acesso à vacina no Centro de Saúde”.