Com recurso a um algoritmo sofisticado, os especialistas concluíram que os sonhos são uma continuação dos eventos que acontecem no nosso dia a dia.
Um estudo, liderado por especialistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, analisou aquilo a que a comunidade científica chama de “hipótese da continuidade dos sonhos”, isto é, a ideia de que os sonhos são uma continuação daquilo que acontece na realidade. Isto significa que todas as experiências do nosso dia a dia vão influenciar, de forma negativa ou positiva, o conteúdo dos nossos sonhos. Além disso, a análise pretende, numa perspetiva psicológica, contribuir para ajudar os indivíduos a tratar problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, stresse, entre outros.
Os peritos desenvolveram, então, um algoritmo que analisa automaticamente mais de 24 mil relatos de sonhos disponíveis no DreamBank.net, um banco de dados público de sonhos criado com base em pesquisas verificadas.
Como funciona o algoritmo?
O algoritmo separa a linguagem utilizada para relatar os sonhos em pequenos segmentos: parágrafos em orações, orações em frases, e frases em palavras. Posteriormente, constrói uma espécie de “árvore de ideias” para entender como as palavras individuais se relacionam umas com as outras. Exemplificando, imaginemos que cada palavra corresponde a uma folha. Os ramos que as ligam representam as regras gramaticais. A tecnologia agrupa, então, essas palavras e relaciona-as com emoções negativas ou positivas. Para lá disso, separa as palavras em categorias de caráter “agressivo”, “amigável” ou “sexual”.
Depois, através de um sistema de codificação sofisticado e muito utilizado por psicólogos, o algoritmo calcula uma série de pontuações para cada sonho. Por exemplo, a agressão média de que as pessoas envolvidas no sonho são alvo, ou a quantidade de emoções negativas e positivas.
De que forma as vivências do quotidiano influenciam aquilo com que sonhamos?
Vários são os relatos citados no estudo que demonstram de que forma os períodos mais conturbados da vida dos indivíduos podem influenciar os seus sonhos. É o caso de Izzy, uma adolescente cujos sonhos relatados revelam emoções negativas mais frequentes no início da adolescência, um período normalmente associado a grandes níveis de ansiedade social. Já nos últimos anos desse período começaram a surgir os primeiros relatos sobre interações sexuais.
Quanto aos sonhos dos veteranos da Guerra do Vietname, aos quais foi identificado transtorno de stresse pós-traumático, os relatos prendem-se, sobretudo, com sentimento de culpa e violência extrema, derivados da ansiedade, stresse e medo sentidos durante a experiência de guerra.
Já os testemunhos das pessoas cegas indicam que os seus cuidadores são os que aparecem de forma mais frequente nos seus sonhos, devido ao facto de os apoiarem constantemente no dia a dia. Também as perceções sensoriais dos cegos tendem a ser mais elevadas devido à maior sensibilidade dos sentidos do tato, audição e olfato. Essa sensibilidade conduz à formação de imagens mais irreais no cérebro dos indivíduos e é provável que sonhem frequentemente com personagens imaginárias.
O estudo refere que o principal objetivo será continuar a estudar esta matéria da relação entre os sonhos e a realidade. O algoritmo criado poderá igualmente ajudar os profissionais de outras áreas da saúde a entender melhor os mecanismos da mente humana.