A vacina é um dos caminhos para atingir imunidade de grupo e, num cenário ideal, erradicar, de uma vez por todas, a Covid-19 do mundo. Para que tal aconteça, existem diversos fatores determinantes que vão da percentagem necessária de população vacinada (cerca de 70%) ao facto de o vírus ter de viver apenas em seres humanos sem se encontrar presente noutros seres vivos do planeta Terra.
“No geral, existem três tipos de vacinas com objetivos distintos”, revela Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e membro da Comissão Técnica de Vacinação . O especialista explica que vacinas como a do tétano protegem apenas quem as toma, enquanto que outras, como a da gripe, “protegem-nos a nós e aos outros. Ficamos protegidos e, ao mesmo tempo, não vamos infetar ninguém”.
Por fim, existe um tipo de vacinas “que vai mais longe, pois tenta interromper totalmente a circulação do vírus ou da bactéria e eliminá-los, erradicando a doença, caso seja tomado por um número suficiente de pessoas”, revela Carmo Gomes. O professor acredita que, se a vacina contra a Covid-19 for eficaz e der proteção durante tempo suficiente para que não sejamos re-infetados por alguns anos, “cairá nesta terceira categoria”.
Ainda assim, seria preciso que cerca de 70% da população estivesse imunizada (por vacinação ou através de anticorpos desenvolvidos após ter contraído Covid) para que atingíssemos a chamada imunidade de grupo. Para isto acontecer e, sobretudo se a toma da vacina for facultativa, implica que haja uma confiança dos pacientes em tomar a mesma.
Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública e professor na Universidade Católica Portuguesa, não tem dúvidas que esta confiança deve ser construída através da transparência, por parte das empresas responsáveis pelo desenvolvimento das vacinas. O especialista aponta a sobreposição de interesses económicos aos de saúde, como fator que pode prejudicar a qualidade das vacinas e a feroz corrida comercial entre as várias empresas como um elemento desmotivador para quem, já naturalmente, é mais renitente à toma das mesmas.
“Não se está a dizer para as empresas abdicarem dos seus legítimos direitos e interesses, mas apela-se a uma cooperação entre elas, para que surjam vacinas efetivamente eficazes e seguras, e possíveis de serem produzidas, em quantidade suficiente, a uma escala global”, explica Henrique Lopes. “Seria importante não produzir todas as vacinas possíveis, mas todas as vacinas seguras”.
O especialista refere que, “quando aparecer, a vacina terá de ser suficientemente eficaz, para não contrairmos a doença, suficientemente segura, para não produzir efeitos secundários e suficientemente longa para poder ter efeitos que justifiquem a toma”.
Ainda assim, é importante ter presente que, mesmo preenchendo todos os requisitos, a vacina só erradicará a doença, caso os seres humanos sejam o único reservatório do vírus no planeta. “É algo que ainda não sabemos, não há certezas. Uma das principais razões pelas quais estamos muito interessados em saber como é que se deu a primeira infeção de um humano é precisamente por causa disto”, esclarece Carmo Gomes.