Tertius Myburgh, um piloto comercial residente em New Brunswick, Canadá, ajudou a resgatar cerca de 100 mil sul-africanos e dezenas de estudantes do Zimbabué retidos na China há meses, através do conforto de sua casa. Mas, como se processou toda a operação de resgate?
Myburgh foi contactado por várias pessoas que ficaram retidas e que não tinha conseguido voltar para casa nos primeiros voos de repatriamento do governo, na esperança de conseguirem algum tipo de ajuda para poderem voar. Ele contou à CNN que “antes da Covid, nós poderíamos simplesmente entrar em contacto com a autoridade de aviação civil, enviar os detalhes do voo, e um ou dois dias depois já tinham a autorização”.
Mas agora, as burocracias eram outras e o piloto precisava de algum apoio diplomático. Então, de modo a ajudar as pessoas que foram impedidas de voltar ao seu país, o piloto usou os seus contactos da África do Sul que ajudaram a facilitar o processo de repatriamento junto das autoridades chinesas. Entretanto, Myburgh conseguiu alugar um Boeing 767, e reunir uma tripulação para a “missão de resgate”.
Finalmente, passadas algumas semanas e depois de todo o processo burocrático estar resolvido, o Boeing partiu de Harare, Zimbabué, rumo a Wuhan, onde se encontravam os cidadãos sul-africanos. Mas devido a todas as restrições impostas, foi necessário fazer algumas escalas. A primeira foi em Joanesburgo, na África do Sul. Depois, seguiram viagem rumo a Kuala Lampur, capital da Malásia, onde deram boleia a um grupo de marinheiros chineses até à cidade de Guangzhou, no sul da China.
Uma vez que a tripulação não estava autorizada a fazer rotas domésticas na China, tiveram de regressar à Malásia de modo a seguir em direção a Wuhan, onde se encontravam os cidadãos, ansiosos à espera do resgate para voltar a casa.
No entanto, quando tudo parecia estar a correr bem, surgiram alguns percalços no caminho. O motor do Boeing avariou, e a tripulação e os passageiros ficaram barrados em Bangkok por mais duas semanas. Inicialmente, Myburgh tinha estabelecido um preço de repatriamento que rondava os 800 euros por cada pessoa. No entanto, conta, deixou-se levar pelas histórias comoventes de todas aquelas pessoas que se encontravam há meses à espera de permissão para abandonar a China, acabando por arcar com as despesas de alimentação e estada de todas elas.

A espera foi longa, sendo que o motor de substituição ainda fez uma viagem demorada que passou pela Holanda, Egito e Taiwan, antes de chegar a Banguecoque. Nessa altura de espera, Myburgh conta que muitos passageiros ficaram sem dinheiro e que as despesas começaram a pesar. No entanto, nunca lhe passou pela cabeça abandonar os passageiros.
No final de julho, após meses de espera, semanas de deceções e imprevistos, o grupo chegou, finalmente, à sua cidade natal. Os cidadãos sul-africanos foram obrigados a fazer a quarentena obrigatória de duas semanas para, depois, estarem junto dos seus familiares como tanto desejavam há meses.