A Covid-19 chegou rapidamente da China à Europa, tendo os primeiros casos em Portugal surgido no início de março. Esta pandemia tornou-se o mais destacado desafio dos tempos atuais. No decorrer dos últimos meses, acompanhámos o comportamento e as preocupações em Portugal, desde a pandemia até aos primeiros tempos de desconfinamento. Os receios em relação à Covid-19 levaram a que, antes do início do estado de emergência, estivesse em aumento o número de pessoas a isolarem-se, tendo antecipado compras para fazerem face ao período de “ficar em casa”.
Naturalmente, o número de pessoas nesta situação aumentou para níveis muito elevados com o estado de emergência (mais de 90% das pessoas que responderam diziam estar em casa). A preocupação com a doença era muito elevada e a atenção à informação, permanente. A televisão foi, durante este período, a principal fonte de informação procurada, mesmo nas camadas mais jovens da população. O isolamento, sendo elevado em geral, foi maior por parte das pessoas com nível de escolaridade mais elevado. Esta diferença poderá ser resultado da menor capacidade, em termos profissionais, da população com baixa escolaridade em passar a teletrabalho e isolamento.
SETORES MAIS AFETADOS
À medida que o tempo passou, e a situação global de contágio foi ficando mais controlada, a preocupação com os efeitos económicos foi ganhando maior preponderância, mesmo depois do início do levantamento das restrições. Esta preocupação é marcadamente maior
nas pessoas com situações económicas mais frágeis, nomeadamente em quem trabalha nos setores mais afetados, como arte, cultura, entretenimento, comércio, atividades imobiliárias, investigação
e construção, destacando-se o setor imobiliário pela magnitude dos impactos previstos para o futuro.
A proporção de pessoas que reportaram sintomas compatíveis com Covid-19 tem uma tendência semelhante à da evolução dos novos casos em território nacional. Durante o mês de março, verificou-se um aumento das chamadas para o SNS24, que capta as dificuldades verificadas no funcionamento da linha. Apesar dos apelos para se ligar para o SNS24, muitos portugueses preferem dirigir-se diretamente aos serviços de saúde.
Na fase pós-estado de emergência, nem todos têm a mesma opinião. As pessoas com níveis de escolaridade mais baixos estão, em geral, menos reticentes em relação à reabertura. Exceção feita a uma preocupação mais elevada com o voltar das crianças às creches nesse grupo. A reabertura dos serviços públicos e do comércio local é a que tem menor oposição. Por outro lado, onde se sente menor premência na reabertura, por parte de quem respondeu, é nos cinemas (e noutros locais de lazer e cultura) e no futebol.
SEGUNDA VAGA
A utilização de dados pessoais numa estratégia de deteção de contactos e de intervenção para conter o contágio tem sido falada com frequência. Cerca de 34% dos participantes concordam com a utilização de dados para rastreio da Covid-19 sem consentimento prévio. Dos 66% que não concordam, a maior parte mostra-se convicta e discorda totalmente.
Em termos de prioridades para as
políticas públicas, com números ainda
preliminares, a principal preocupação
expressa é a de evitar uma segunda
vaga da pandemia, e só depois a da
minimização dos efeitos económicos
adversos. A Covid-19 terá sido mais do que
uma breve interrupção nas nossas rotinas,
e retomar essas rotinas como eram antes
da pandemia não é importante.
Por Pedro Pita Barros, Eduardo Costa e Sara Almeida
Fonte: Inquérito sobre a pandemia Covid-19
9 493 pessoas participaram até ao dia 2 de junho nas cinco vagas do inquérito (a quinta vaga ainda está a decorrer) realizadas desde o dia 13 de março