O meu nome é Céu Mateus, sou portuguesa, há 25 anos que sou economista da saúde e sou emigrante em Inglaterra desde 2014. E eu posso infetá-lo, pois estamos a seis apertos de mão de distância. Ou seja, estamos a seis conhecidos, ou menos, um do outro. Esta teoria da proximidade das relações sociais demonstra a importância do isolamento social pedido pelo governo português e a mensagem, repetida à exaustão, para lavarmos mais as mãos. Estas são as duas medidas mais efetivas que se conhecem até ao momento para suster a infeção pelo novo coronavírus.
O novo coronavírus está em todo o lado, está a matar pessoas, principalmente as que têm mais de 70 anos ou doenças que as fragilizam e que as tornam mais susceptíveis ao vírus, como as doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias crónicas, hipertensão e cancro.
E que mais faz o governo inglês? Não fecha escolas. Não fecha bares. Não obriga os promotores a cancelarem espectáculos. Já não testa quem apresenta sintomas porque os laboratórios não têm capacidade
A preocupação com o número de infectados, com o saber se há testes para todos, se há equipamentos de segurança para os profissionais de saúde, se há camas, se há ventiladores, se, se, se… enche as redes sociais, as colunas de opinião dos jornais e os modelos que estão a ser desenvolvidos para tentar compreender a evolução da epidemia. Percebemos que o mundo está todo ligado e não só online. O mundo está mesmo todo ligado ao vivo e a cores, em três dimensões. As pessoas vão de um lado para o outro e levam com elas o vírus. E infectam todas as pessoas com quem se cruzam no caminho. Por isso há quem pense que com o fecho das fronteiras se resolve o problema. Como é que depois da vitória que foi a conquista do espaço Schengen com livre circulação de pessoas, bens e serviços vemos toda a gente a pedir para ficar de novo fechado? O medo! E é o medo que nos salva dos perigos pois é o medo que nos diz para termos cuidado.
E isto é tudo tão mais estranho quando estou no único país do mundo em que o governo decidiu, até ao dia de hoje (15 de Março de 2020), que a melhor estratégia era deixar o vírus espalhar-se pela população e infectar quem tivesse que infectar. Com o conhecimento que temos hoje e com os modelos que existem, o governo inglês considera que 80% das pessoas que vivem em Inglaterra poderão ser infectadas nos próximos 12 meses e 7,9 milhões terão que ser internadas e podem morrer cerca de meio milhão de pessoas.
Viver online a realidade portuguesa e viver offline a realidade inglesa, faz-me ter um tremendo orgulho naquilo que o governo português tem sido capaz de fazer e nas medidas que tem tido a coragem de tomar
E que mais faz o governo inglês? Não fecha escolas. Não fecha bares. Não obriga os promotores a cancelarem espectáculos. Já não testa quem apresenta sintomas porque os laboratórios não têm capacidade. Não testa os profissionais de saúde porque os laboratórios não têm capacidade. Apenas testa doentes graves, pessoas em cuidados continuados e presos que se encontrem em hospitais, lares ou prisões onde tenha sido detectado um caso positivo. Não há qualquer tipo de estratégia por parte do governo inglês a não ser deixar o vírus à solta e pedir às famílias para se preparem para perderem pessoas de que gostam.
Viver online a realidade portuguesa e viver offline a realidade inglesa, faz-me ter um tremendo orgulho naquilo que o governo português tem sido capaz de fazer e nas medidas que tem tido a coragem de tomar. É tudo óptimo? Não, mas é tudo feito a pensar no que é melhor para os portugueses. Todos! E isso é muito mais do que aquilo que outros países com mais recursos têm sido capazes de fazer. Continue em casa, lave as mãos e tenha paciência. Isto há-de passar! E quando isto acabar quero dar um grande aperto de mão à nossa ministra da Saúde e à nossa diretora geral da Saúde. Obrigada, Marta! Obrigada, Graça!