“COVID-19. Vou soletrar: C-O-V-I-D, hífen, um, nove. COVID-19.” Foi assim que Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou o nome oficial da agência para a doença que, desde há mês e meio, está a paralisar a China e a ameaçar o resto do mundo. Um batismo que acabou com seis semanas de incerteza sobre a forma como seria chamada, depois de já ter gerado alguma polémica com a Cerveja Corona. Mas o novo nome agora adotado também criou nova confusão.
Ou seja, COVID-19 é um nome para a doença, não para o vírus que a causa, que até agora também tinha uma sigla temporária, 2019-nCoV, significando apenas que era um novo coronavírus que surgiu no ano passado. Mas, o agente patogénico também recebeu uma nova designação, mesmo antes do fim da conferência de imprensa da OMS: ou seja, o Grupo de Estudos sobre Coronavírus (CSG), do Comité Internacional de Taxonomia de Vírus, aproveitou o momento para considerar que este vírus passaria a chamar-se: vírus de síndroma respiratória aguda grave de coronavírus 2, ou SARS-CoV-2.
Digamos que os mal-entendidos eram expetáveis. No fim do anúncio, quem estava na conferência de imprensa correu para o Twitter a anunciar que “o vírus tinha finalmente um nome”, corrigindo, pouco depois, que aquele era o nome da doença. E a verdade é que, embora a nomenclatura possa ser uma questão menor perante a crescente crise de saúde pública, até alguns virologistas ficaram surpresos com os anúncios aparentemente em conflito. Como Marion Koopmans, do Erasmus Medical Center.
“Concordo que é um pouco confuso”, concordou, entretanto, o também virologista Alexander Gorbalenya, da Universidade de Leiden, membro do CSG.
Segundo Tedros, o nome escolhido procurava evitar referências a uma localização geográfica específica, espécie animal ou grupo de pessoas, de acordo com as recomendações internacionais para nomes que visam impedir a estigmatização. Anteriormente, a OMS chamava-lhe “doença respiratória aguda 2019-nCoV”, enquanto a Comissão Nacional de Saúde da China disse esta semana que estava temporariamente a considerar apenas “nova pneumonia por coronavírus”.
Só que isso já tinha provocado outra confusão, depois de algumas marcas com nomes parecidos terem-se visto obrigadas a emitir esclarecimentos fora do comum. Uma delas foi a cerveja Corona – depois de se ter sabido que as pesquisas por “cerveja de coronavírus” e “vírus de cerveja” aumentaram acentuadamente nas últimas duas semanas, de acordo com as tendências de pesquisa no Google. A marca acabaria mesmo por ter de se socorrer de slogans como “A sua Corona está protegida contra os coronavírus, não é necessário adicionar desinfetante”. E seguiu-se, como é comum nestes casos, uma enchente de memes.
Mas o caso não ficou por aqui e eis que a história se repete, como explica a Slate, apresentando o caso da empresa do Arizona que vende cabos elétricos chamada e que se chama, lá está, Covid. Ainda assim, agora com menos preocupações dos seus responsáveis: “Há 40 anos, o nome original da empresa era “Vid Co”, contou àquela publicação o CEO da empresa, Norm Carson. “Mas depois soube-se que havia outros Vid Co no país, então mudou-se o nome para Covid”.