Em 79 d.C, o Vesúvio entrou em erupção sobre as cidades de Pompeia e Herculano, inundando tudo à sua volta com gases e rocha vulcânica, num raio de 20 quilómetros. Até agora, os indícios davam a entender que as mortes teriam sido instantâneas, devido ao calor intenso dos materiais expelidos pelo vulcão. No entanto, uma nova investigação conclui que as mortes foram mais longas e mais dolorosas do que se tinha pensado.
O estudo, publicado na revista científica Antiquity, sugere que as centenas de pessoas que procuraram abrigo junto às câmaras de pedra, à beira-mar, morreram lentamente “assadas” ou sufocadas pela inalação dos gases tóxicos da erupção. Outros podem ter morrido de desidratação gradual à medida que as temperaturas aumentavam para níveis entre os 250-300ºC. Embora as câmaras de pedra tenham oferecido um maior isolamento, na verdade a onda de calor intenso criou um cenário que Tim Thompson, coordenador do estudo, descreveu como um “cozimento”. “O calor levaria um pouco mais de tempo para atravessar a estrutura de pedra e atingir uma temperatura que seria letal.”
Quase dois mil anos depois, os investigadores, das universidades de York e de Teesside, no Reino Unido, analisaram os 152 esqueletos das pessoas encontradas em Herculano e perceberam que a estrutura cristalina dos ossos das costelas dos cadáveres, assim como o cologénio interno, mostram pequenas alterações que podem significar que estes corpos não foram expostos a temperaturas extremamente elevadas (entre os 300 a 500ºC), que determinariam uma morte instântanea. Isto levou a equipa de arqueólogos a concluir que a morte terá sido bem mais lenta do que as pesquisas anteriores apontaram, embora igualmente dolorosa.
“Acreditamos que as pessoas nas câmaras de pedra estavam basicamente a esconder-se para se proteger da chuva de detritos enquanto os outros estavam na praia a tentar preparar os barcos para fugir. Não há traumas significativos nos esqueletos. Consideramos que ficaram presos e morreram sufocados ”, rematou Thompson. “Esta nova análise dá-nos uma compreensão mais aproximada do que aconteceu naquele dia fatídico.”
Em 2018, um estudo arqueológico levado a cabo pela Universidade de Nápoles Frederico II, na Itália, descobriu um outro pormenor até então desconhecido pelos investigadores: uma poeira preta e avermelhada impregnada nos ossos das vítimas. Os testes de espectroscopia de plasma – técnica de análise química – mostraram que esta substância era constituída principalmente por óxido de ferro, o que levou a equipa a concluir que se tratou do resultado da degradação térmica da hemoproteína das vitimas, isto é, um sobreaquecimento do sangue que terá levado a um rápido processo de evaporação dos tecidos moles e fluidos corporais. Esta descoberta permitiu perceber a razão da presença de cinzas no interior dos crânios das vítimas e apontar uma conclusão: estes indícios mostram que a onda de calor foi capaz de penetrar na cavidade intracraniana logo após terem desaparecido os tecidos moles e os fluidos orgânicos.
Ainda há, no entanto, muitos factos desconhecidos. Por exemplo, os investigadores ainda não descobriram o mês da tragédia.