Com a perda de enormes quantidades de insetos na floresta tropical de El Yunque, Porto Rico, desapareceram também os seus predadores – lagartos, sapos e pássaros.
Os investigadores focaram-se nos artrópodes, que incluem os insetos invertebrados com exoesqueleto (esqueleto externo) e vários apêndices articulados, como gafanhotos, moscas e mosquitos, borboletas ou formigas e ainda aranhas, escorpiões e centopeias, comparando dados da década de 70, e concluíram que a biomassa destes animais tinha diminuído entre 10 a 60 vezes.
A avaliação é feita com recurso a pratos cobertos com uma espécie de cola colocados no chão, para os artrópodes que andam no chão, e nas copas das árvores. Além disso, são também lançadas redes, centenas de vezes, para recolher as espécies que andam na vegetação. Ambas as técnicas mostraram que a biomassa (o peso seco dos invertebrados capturados) tinha diminuído significativamente.
Mas as conclusões alarmantes do estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences não se ficam por aqui: a análise revelou “declínios simultâneos em lagartos, sapos e pássaros que comem artrópodes”.
E se o autores de um estudo publicado no ano passado sobre o desaparecimento de insetos voadores na Alemanha sugeriam que o uso de pesticidas podia ser um dos culpados, os investigadores deste novo estudo sublinham que, neste caso, as culpas têm de cair noutro lado, uma vez que, desde 1969 que o uso de pesticidas caiu mais de 80% em Porto Rico. O principal suspeito? O aquecimento global.
“Nos últimos 30 anos, as temperaturas na floresta aumentaram 2ºC e o nosso estudo indica que o aquecimento do clima é a força por trás do colapso da cadeia alimentar da floresta”, escrevem os investigadores, acrescentando que, a confirmar-se, o impacto das alterações climáticas nos ecossistemas tropicais “pode ser muito maior do que se antecipava”.
Desde os anos 70 que Bradford Lister, o biólogo do Instituto Politécnico de Rensselaer em Nova Iorque, e um dos autores do estudo, se dedica à análise dos insetos de El Yunque. Em 1976 e 1977 foi ao terreno “contá-los”, bem como aos seus predadores. Voltou 40 anos depois, com Andrés García, da Universidade Nacional Autónoma do México, e foi o que não encontraram que impressionou os dois investigadores: “Foi logo óbvio mal entrámos naquela floresta. Menos pássaros a voar, as borboletas, antes abundantes, tinham todas desaparecido.”
Traças, aranhas e gafanhotos também são agora em número muito inferior e, no caso dos lagartos Anolis, a biomassa caiu mais de 30 por cento; Já um pássaro que praticamente só se alimenta de insetos, o todi-de-porto-rico, diminuiu 90 por cento.
E as consequências dramáticas continuam: sem polinizadores, algumas plantas também podem extinguir-se. E sem florestas tropicais, “será mais uma falha catastrófica em todo o sistema da Terra que vai atingir os seres humanos de formas inimagináveis”.