Quando se apercebeu que as filhas viam desenhos animados na Internet que pareciam originais da Disney, mas na verdade continham cenas “estranhas e violentas”, do género do “Mickey a cortar cabeças”, Hugo Ribeiro procurou uma aplicação para telemóveis capaz de garantir a filtragem do que era ou não era aproriado para as crianças. Como não encontrou uma solução dentro dos requisitos pretendidos, deitou mãos a esse projeto e, juntamente com Pedro Branco, criou a KiddZtube. Operacional desde o final de 2017, o sucesso chegou logo nos primeiros meses deste ano: a plataforma já disponibiliza mais de 1.200 vídeos, todos selecionados por professores a partir dos conteúdos infantis mais populares no Youtube, e atingiu, no semestre concluído a 30 de junho, o patamar das 250 mil crianças utilizadoras, em mais de 200 países, num total que supera os três milhões de vídeos vistos.
Os números são avançados à VISÃO por Hugo Ribeiro, diretor geral da Magikbee, a empresa de Braga que desenvolve este produto destinado a crianças e pais, acrescentado aos vídeos conteúdos didáticos e interativos. No final, as crianças são confrontadas com uma pergunta ou um desafio que, por regra, a equipa de professores que os cria tenta transformar numa ferramenta de aprendizagem. “Das cores, dos animais, até de músicas de Natal”, exemplifica Hugo Ribeiro. Cada vídeo pode estar associado a cerca de dez perguntas, que vão surgindo à vez sempre que a criança vê o mesmo desenho animado. Aos pais estão reservadas funcionalidades como a possibilidade de definirem um limite temporal de utilização por dia ou a de poderem rastrear os conteúdos visualizados pelos filhos.
Em março, a versão paga (4,99 dólares – ou 4,2 euros) da KiddZtube chegou a ser app para crianças mais vendida na Amazon, na área audiovisual, e ao início da tarde desta sexta-feira, 20, seguia na quarta posição (há atualizações de hora a hora). “É incrível como estamos a conseguir competir com gigantes a nível mundial como a Nickelodeon”, salienta o cofundador da Magikbee, que deixou o emprego na Sonae, na área do marketing da operadora NOS, para investir neste negócio. Também está disponível uma versão gratuita da aplicação, com cerca de 50 vídeos.
Inglês é a língua mãe
Os conteúdos selecionados no Youtube são todos em inglês e o alvo são crianças dos três aos oito anos. A opção está ligada ao facto de terem sido identificadas lacunas “à escala global”, no que respeita à monitorização dos desenhos animados que as crianças devem evitar, e também à vontade de chegar ao maior número de interessados. O mercado americano representa nesta altura 60% dos clientes da KiddZtube, seguido do Reino Unido, com um peso entre os 25 e os 30 por cento. “O resto dos nossos clientes está muito distribuído”, adianta Hugo Ribeiro, 38 anos e pai de uma menina com cinco e de outra com onze.
O sucesso do projeto levou entretanto a pedidos de outros professores para incluirem vídeos na plataforma, de forma a poderem depois usá-los no ensino de algumas temáticas, da geografia à história. Nesse sentido, a Magikbee criou a KiddZtube Academy, uma solução que permite seguir a evolução dos alunos.