Para além de combater doenças, os antibióticos são usados na produção animal para garantir o crescimento dos animais de consumo humano. Contudo, o uso abusivo destas substâncias pode estar a pôr em risco o futuro da medicina ao contribuir para uma crescente resistência a antibióticos por parte das bactérias, cada vez mais difíceis de matar.
“A ciência mostra que o uso abusivo de antibióticos em animais pode contribuir para a o crescimento da resistência a antibióticos“, informa Kazuaki Miyagishima, diretor do departamento de segurança alimentar da Organização Mundial de saúde (OMS).
Muitas bactérias responsáveis por graves infeções a seres humanos já desenvolveram resistência a todos ou quase todos os tratamentos existentes hoje em dia, reporta a OMS, e não existem até agora soluções alternativas.
“A falta de antibióticos eficazes é uma ameaça à segurança tão grave como o surto repentino de uma doença mortal”, afirma o diretor-geral da OMS Tedros Ghebreyesus, que defende que não só a industria alimentar, mas todos os setores devem agir de modo a contrariar esta realidade.
Para a OMS, o uso de antibióticos em animais saudáveis só deve ser considerado caso algum animal do mesmo grupo – manada, bando ou cardume – tenha sido diagnosticado com alguma infeção, para evitar a propagação da mesma.
Um relatório publicado no The Lancet Planetary Health descobriu que reduzir a quantidade de antibióticos dados a animais de consumo humano reduz em 39% o aparecimento de bactérias resistentes a antibióticos, nestes mesmos animais. Este estudo, relata a OMS, inspirou a organização a criar uma série de novas diretrizes sobre a matéria.
Sempre que possível, os animais doentes devem ser testados, de modo a serem tratados com o antibiótico mais adequado, recomenda a organização.
Devem ser ainda priorizados os medicamentos “menos importantes” para a saúde humana, no tratamento dos animais.
Em alternativa ao uso de antibióticos, e como medida de prevenção de doenças, a OMS recomenda a melhoria das condições de higiene, a vacinação consciente dos animais e mudanças nas práticas de criação de gado.
Desde 2006 que a União Europeia proibiu o uso desregulado de antibióticos em animais saudáveis para efeitos somente de crescimento. Contudo, nos EUA e na Asia o uso das substancias ainda não se encontra regulado.
“O volume de antibióticos utilizados em animais continua a aumentar em todo o mundo, impulsionado por uma crescente procura por alimentos de origem animal, muitas vezes produzidos por meios de criação intensiva”, acrescenta Miyagishima.
Em alguns países, cerca de 80% do consumo de antibióticos importantes à saúde humana dá-se exclusivamente no setor animal.