“Eu digo sempre às pessoas que quando dão um tablet ou um smartphone aos filhos é como estar a dar uma garrafa de vinho ou uma grama de cocaína”, foram as palavras de Mandy Saligari, especialista em clínica de reabilitação, que marcaram uma conferência sobre o desenvolvimento dos adolescentes, em Londres.
A diretora da clínica Harley Street adverte para os riscos associados ao tempo que as crianças e adolescentes passam em dispositivos porque podem estimular as mesmas áreas cerebrais que o consumo de drogas e álcool. O tempo que as crianças passam em redes sociais como o Snapchat ou o Instagram pode ter um efeito idêntico ao do consumo de substâncias que criam dependência e, por essa razão, deve ser tratado como um vício.
“Quando as pessoas pensam em vícios tendem a associar a substâncias, mas na verdade trata-se de um padrão comportamental que se pode manifestar de maneiras diferentes”, releva a especialista, nomeando distúrbios alimentares, danos pessoais e sexting (troca de conteúdos sexuais) como exemplos.
Saligari revela que cerca de dois terços dos seus pacientes têm entre 16 e 20 anos e procuram tratamentos para dependência. A especialista caracteriza estes números como um “aumento dramático” desde os últimos dez anos e que muitos dos seus pacientes tinham idades ainda mais jovens.
As preocupações têm aumentado recentemente devido ao número de jovens que trocam imagens pornográficas ou acedem a conteúdos inadequados para a idade através dos seus dispositivos. “Muitas das minhas pacientes são meninas de 13 e 14 anos que estão envolvidas em sexting e descrevem-no como um hábito perfeitamente normal”, revela.
Richard Graham, consultor de psiquiatria do Hospital de Nightingale, em Londres, discursou ao lado da especialista e realçou que a questão de como os pais lutam para encontrar um equilíbrio para o uso de dispositivos dos filhos é uma crescente área de interesse para a ciência.
É fundamental redefinir o uso de tablets e smartphones e para prevenir que a tendência de dependência aumente. Para esse efeito, os especialistas revelam que é necessário dar maior ênfase às rotinas de sono e estabelecer horários de “recolha” dos dispositivos, tanto em casa como nas escolas.
“Se tratarmos [da dependência] com antecedência, é possível ensinar as crianças de como se auto-regular e não é será necessário controla-las ou dizer-lhes o que fazer”, acrescenta Saligari.