Califórnia, Nevada, Arizona, Massachusetts e Maine. São estes os cinco Estados que vão votar a favor ou contra a legalização da marijuana nos seus territórios, no próximo dia 8, quando também Hillary Clinton e Donald Trump chegam ao fim da corrida para a Casa Branca.
Ao contrário da ruidosa campanha presidencial, os movimentos pró e contra a legalização da marijuana parecem mover-se mais em bastidores sussurrantes, sobretudo no que toca ao financiamento das suas ações para convencer os votantes.
Na campanha do contra, sobressai um magnata de casinos em Las Vegas, Sheldon Adelson, que já doou, até ver, cerca de um terço do financiamento total obtido pelos movimentos antilegalização em três Estados. Ou seja, ofereceu 3,5 milhões de dólares (3,1 milhões de euros).
Mason Tvert, um dos porta-vozes da campanha pela legalização (com o consumo restringido a adultos a partir dos 21 anos), sugere que Sheldon Adelson é movido pelos seus interesses empresariais. “Se gostas de beber álcool e jogar blackjack num casino, o sr. Adelson recebe-te de braços abertos. Mas se preferes fumar marijuana enquanto te divertes com um jogo de vídeo na privacidade da tua casa, aí ele já te quer na prisão”, disse um sarcástico Tvert.
Os apoiantes do magnata dos casinos argumentam que a sua cruzada contra a marijuana deve ser vista como uma decisão pessoal, que nada tem a ver com o negócio. Lembram que Sheldon Adelson teve dois filhos toxicodependentes, um dos quais viria a morrer, vítima de uma overdose, em 2005. Recordam ainda que a sua mulher, Miriam Adelson, é uma médica especialista em adições.
Mas está a tornar-se evidente o financiamento das indústrias das bebidas alcoólicas, dos casinos e das farmacêuticas aos movimentos antilegalização, com óbvias motivações empresariais. O caso mais paradigmático talvez seja o da farmacêutica Insys Therapeutics, do Arizona, especializada em remédios para a dor, que contribuiu com meio milhão de dólares (455 mil euros) para a campanha do contra, ao mesmo tempo que desenvolve um medicamento baseado no THC, a principal substância da marijuana.
Na barricada dos apoiantes da legalização ocorrem também episódios obscuros. Por exemplo, um grupo de advogados ativistas da legalização fez na Califórnia uma doação para a respetiva campanha de quatro milhões de dólares (3,6 milhões de euros), dinheiro que, na verdade, parece ter chegado diretamente de George Soros, controverso investidor e especulador bolsista. Não menos polémico, Sean Parker, fundador do Napster, é também um dos grandes financiadores pró-legalização.
Outro exemplo obscuro, no financiamento da campanha pela legalização, é o de um conhecido escritório de advogados do Nevada – o de Brian Padgett, que doou 150 mil dólares (137 mil euros). Sucede, porém, que Padgett investiu numa empresa, a CW Nevada, que aposta em tratamentos baseados na marijuana para doentes epiléticos.
Quem parece contar menos, nesta batalha de titãs, são mesmo os ativistas, de ambos os lados, sem outros interesses que não as suas convicções.