Um monólogo como Caveman [estreia dia 18, no Teatro Villaret, em Lisboa] não diria que é mais exigente do que fazer parte de um elenco grande. Mas é com certeza mais solitário. A responsabi-lidade é maior, mas é essencial-mente no antes e pós-espetáculo que se faz notar a grande diferença de um monólogo, que simboliza a solidão do ator.
Os tempos livres são bons para estar com a família e amigos, para ler, cozinhar, passear, treinar, ouvir música, viajar, fotografar, dormir e não fazer nada.
São muitas as situações de Caveman que me revejo no dia a dia, desde o sentido de proteção da família à noção de território, passando pelo sentido de competição masculina e pela falta de paciência e aptidão para andar às compras. Interpretar este texto e pesquisar para a construção do personagem fez-me compreender que, ao fim de 10 mil anos, homens e mulheres continuam ainda a ser influenciados por instintos de caçadores e recoletores pré-históricos.
É verdade que tenho mais facilidade em fazer comédia, mas continuo à espera de um convite que seja desafiador para algo diferente. O Tom Hanks, por exemplo, no início da carreira só fazia comédia e veio a revelar–se um ator dramático excelente. Sem qualquer tipo de comparação com ele, o que quero dizer é que alguém tem de arriscar e pensar fora da zona de conforto e propor-me desafios, como Steven Spielberg lhe fez.
Para criar os personagens não me inspiro mais em homens ou em mulheres. Inspiro-me em pessoas, animais ou personagens de banda desenhada. O género é o menos importante.
Não tenho o meu lado de ‘homem das cavernas’ muito apurado, confesso. Não sou propriamente habilitado para usar ferramentas e fazer trabalhos manuais, mas gosto de pensar que sou um sonhador, como o homem das cavernas seria. Não nos podemos esquecer que foi o primeiro criador de mitos, o primeiro artista, o primeiro ator, o primeiro músico, o primeiro intérprete. Nesse sentido, talvez o meu lado ‘cavernoso’ se note na minha faceta de artista, de ator.
Depoimento recolhido por Sónia Calheiros