O surfista norte-americano Garrett McNamara, 49 anos, fez de Portugal a sua segunda casa. E, neste caso, aplica-se o provérbio de que é pelo estômago que se conquistam as pessoas. “Onde quer que eu vá a comida da Celeste está sempre na minha cabeça”, confessa o atleta à VISÃO no areal da Praia Grande, em Sintra, referindo-se ao restaurante A Celeste, na Nazaré, onde encontrou uma segunda família. “Dos laços mais fortes que tenho na vida são com as pessoas que conheci em Portugal”, revela o homem que há cinco anos surfou a maior onda do mundo – com quase 24 metros – na Praia do Norte, Nazaré (em 2013 bateu o seu próprio recorde com uma onda de 30 metros).
Garrett McNamara acredita que o surf ajudou a pôr Portugal na “crista da onda”: “O recorde da maior onda alguma vez surfada passou na CNN e na BBC três anos seguidos. Portugal teve publicidade no valor de milhões de dólares e tornou-se no destino número um da Europa por causa disso”. O surfista fala como um verdadeiro embaixador das ondas portuguesas, uma “honra” que o deixa orgulhoso.
Cada vez mais a sua vida divide-se entre o Havai e a Nazaré, mas ainda não tem casa cá. A mulher e o filho também partilham a sua paixão pelo país e, sobretudo, pelos amigos que têm feito. Este ano, anteciparam a festa do segundo aniversário do filho para celebrarem com a “família da Nazaré”. E Garrett McNamara até já adotou alguns hábitos portugueses.
Lembra-se da primeira vez que ouviu falar de Portugal?
No Havai, 30% da população tem sangue português. Por isso, sempre ouvi falar do povo português. Quanto a Portugal, a primeira vez que tive contacto com o país foi quando a câmara da Nazaré me enviou um email. Diziam que achavam que tinham uma onda grande, mas não tinham a certeza, e convidaram-me a vir cá ver se a onda deles valia mesmo a pena. Foi assim que tudo começou.
Só visita Portugal quando tem compromissos profissionais ou também vem cá de férias?
A minha vida são férias! [risos] Mas com muito trabalho à mistura. Tenho-me concentrado em dar a conhecer Portugal ao mundo. Sempre que cá venho a minha atenção está voltada para isso.
Portugal continua a ser um destino desconhecido lá fora?
O recorde da maior onda alguma vez surfada passou na CNN e na BBC três anos seguidos. Portugal teve publicidade no valor de milhões de dólares e tornou-se no destino número um da Europa por causa disso. É uma onda tão fantástica que captou instantaneamente o interesse das pessoas e, de repente, elas passaram a estar interessadas em vir a Portugal. Quando vêm conhecem as pessoas, a comida… e vão contar aos amigos todos.
Aos amigos surfistas…
Eu não me foco só nos surfistas, foco-me em toda a gente. Adoro surfistas, mas prefiro estar sozinho no mar!
Sente-se responsável por ter ajudado a projetar internacionalmente a Nazaré e o turismo nacional?
Eu acho que não sou o responsável por essa projeção. A onda, as pessoas e a comida é que são os grandes responsáveis.
Mas ajudou…
A onda sempre lá esteve, as pessoas sempre aqui estiveram e a comida é sempre boa. Por isso, nada poderia correr mal.
Preocupa-o que Portugal se possa tornar um destino turístico massificado?
Não me preocupa, mas inquieta-me… Idealmente, para mim, seria só eu e um ou dois amigos no mar. Isso seria muito divertido. Mas a promoção que temos feito atrai muitas pessoas e é muito importante para o País. É o caminho mais rápido para a economia crescer. Eu não penso só em mim, ou nos surfistas, penso em todas as pessoas que possam vir cá. O que eu puder fazer para ajudar Portugal como um todo, faço.
Pode ser difícil manter o controlo…
Este espaço é tão puro e fantástico como está… É difícil esta questão… Eu gosto tal como está e não quero que mude, mas quero ver a economia florescer e as pessoas a prosperarem.
A sua relação com Portugal vai além da promoção turística…
Eu apaixonei-me imediatamente pela onda gigante e pelas pessoas. Imediatamente.
Foi isso que o fez ir regressando?
As pessoas, as ondas… E a comida!
Já tem um prato português preferido?
Tenho vários! São demasiados… Não sei qual é o meu preferido… No Alentejo há o arroz de berbigão que é do outro mundo. Há muitos restaurantes fantásticos, mas depois de comer penso sempre que não se aproximam da Celeste… O restaurante dela é sempre o meu preferido. Onde quer que eu vá a comida da Celeste está sempre na minha cabeça. Em todo o mundo!
Refere-se ao restaurante A Celeste, na Nazaré, onde já é praticamente um local…
Há tanto amor… É fantástico o que aconteceu aqui… É muito mais do que eu algum dia poderia esperar ou sonhar. Não gosto de me chamar “embaixador”, mas a verdade é que é assim que me tratam. É muito comovente pensar nisso. É uma grande honra e fico muito orgulhoso que me considerem um embaixador. Faz-me sentir muito sortudo!
Sente alguma responsabilidade?
É tão fácil! Portugal é fantástico. Na verdade, eu não preciso de fazer nada. Os portugueses têm um país incrível: é seguro, não há pobreza extrema… E acho que está a melhorar. Acredito que a economia vai crescer lentamente e que vai ser possível superar as dificuldades e encontrar soluções para os desafios do futuro. Todos têm problemas, o que é fundamental é encontrar soluções para eles.
A sua família também partilha esta paixão por Portugal?
Sim, a minha mulher nunca se quer ir embora e o Barrel está no céu. A nossa família na Nazaré é mesmo como uma verdadeira família. Dos laços mais fortes que tenho na vida são com as pessoas que conheci em Portugal. A Tia Maria, o André, a Juliana…
Que retrato traça dos portugueses?
São muito calorosos e afetuosos como numa família. Os laços entre as pessoas são muito fortes. Sobretudo os mais jovens têm muita facilidade em criar laços, os mais velhos também, mas nos mais novos nota-se mais. Toda a gente conhece toda a gente.
Mas tem de haver alguma coisa de que não goste tanto…
O grande desafio que eu enfrento sempre que cá venho é com o meu filho de 2 anos. Nós preocupamo-nos muito com o ambiente e também lhe ensinámos isso. O meu filho, se vir embalagens no areal das praias começa a gritar para as irmos apanhar e pôr no lixo. É um trabalho duro! Mas eu adoro fazê-lo!
Cada vez mais figuras públicas internacionais procuram Portugal. O que temos para lhes oferecer?
É um país muito seguro e barato.
Mas o preço não costuma ser um problema para este nicho de mercado…
Quem tem dinheiro procura oportunidades de negócio. Mesmo os mais ricos não gostam de gastar demasiado. Já conheci muitos milionários forretas! [risos].
Que hábito português já adotou?
Definitivamente, o café expresso. Adoro beber café de manhã. Tornou-se um ritual para mim. Quando estou a treinar tenho uma alimentação perfeita, fora isso, o café… E o sumo de laranja acabado de fazer! Adoro!