Mais mortes mortes por overdose, reaparecimento de drogas que tinham entrado em declínio, aparecimetno de novos produtos e liberalização do consumo de drogas usadas como “ecstasy” e da sua venda, na internet. O Relatório Europeu sobre Drogas 2016, apresentado esta manhã em Lisboa, não traz notícias animadores.
Cerca de 1% dos adultos europeus consomem cannabis diariamente ou quase diariamente, revela o Relatório. A cannabis, cujos níveis de potência são os mais elevados de sempre, tem visto o seu consumo aumentar, sendo, atualmente, “responsável pela maior quota, em termos de valor, do mercado europeu de drogas ilícitas.” À cannabis (16,6 milhões de jovens europeus consumiram-na, na último ano), seguem-se a heroína, que reapareceu, e a cocaína (consumida por 2,4 milhões de jovens europeus, no último ano).
Estes dados preocupam as instâncias europeias que analisam as tendências e evoluções do consumo de droga no velho continente, sobretudo porque apontam para o risco acrescido de os seus consumidores virem a sofrer de problemas de saúde agudos e crónicos – sendo certo que a maioria das pessoas que iniciam tratamentos da toxicodependência já o faz devido ao consumo desta mesma droga.
Mas outros dados preocupam o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência: o contínuo aparecimento de novas drogas, a mudança de padrões de consumo, o aumento de morte por overdose em alguns países e as ameaças colocadas pelos mercados de droga na internet.
Contínuo aparecimento de novas substâncias
O número, tipo e disponibilidade de novas substâncias psicoativas no mercado europeu continua a aumentar. Em 2015, foram notificadas pela primeira vez 98 novas substâncias (101 em 2014). E “os jovens consumidores podem estar a ser involuntariamente usados como cobaias de substâncias cujos potenciais riscos para a saúde são praticamente desconhecidos”
O Observatório estima que, em 2014, tenham morrido, na União Europeia, pelo menos 6800 pessoas (a grande maioria de sexo masculino) por overdose. Entre os países da UE, Reino Unido (36%) e Alemanha (15%) foram, conjuntamente, responsáveis por metade desses valores.
Na Europa, a overdose continua a ser a principal causa de morte entre os consumidores de droga, mas não é a única. “Há que ter em conta outras causas de morte indiretamente relacionadas com o consumo de drogas, tais como infeções, os acidentes, a violência e o suicídio”, refere o relatório. Outro fator a ter em conta é que as taxas são substancialmente mais elevadas, quando comparada com outros pontos do planeta: “os consumidores de opiáceos na Europa correm um risco pelo menos 5 a 10 vezes maior de morrer que os seus pares” (da mesma idade e mesmo sexo, mas outros continentes).
Ameaças colocadas pelos mercados de droga na internet
Na última década, assistimos à “emergência das novas tecnologias ligadas à internet”, que têm facilitado “o desenvolvimento de mercados eletrónicos”. Os mercados da droga têm podido, assim, “operar na internet ‘de superfície’, normalmente com a venda de químicos percursores não controlados, de novas substâncias psicoativas ou de medicamentos falsificados ou contrafeitos.” Além deste meio, podem ainda circular na deep web, onde a cannabis e a MDMA (frequentemente vendida como “ectasy”) são frequentemente oferecidas.
A MDMA, que reapareceu após uma década de declínio, se tornou na droga estimulante de eleição, entre os jovens europeus. Segundo o relatório, cerca de 2,1 milhões de jovens (com idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos) afirmaram ter consumido MDMA no último ano e o seu consumo, que se democratizou, deixou de se limitar às discotecas para se tornar mais frequente em ambientes de diversão noturna comuns, como bares e festas.
Este alastramento está associado à “inovação no fornecimento de percursores de MDMA, às novas técnicas de produção [foram desmanteladas instalações de produção em larga escala na Bélgica e nos Países Baixos] e à oferta online”, refere o documento.