Sendo a principal causa de morte entre os países ricos, o tratamento e diagnóstico das doenças cardiovasculares é uma área que não pára de evoluir. Depois das cirurgias sofisticadas, da medicação inovadora, chega a nanotecnologia – a técnica que se baseia na manipulação ao nível do átomo ou da molécula – uma ideia que parece ficção, mas que começa a ter aplicação em várias áreas, entre elas a medicina.
Durante o doutoramento na Universidade da Califórnia, Nuno Santos, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM), aprendeu a trabalhar nesta área, que implica usar um equipamento de manipulação de moléculas, o AFM (da sigla em inglês para Microscopia de Força Atómica). E decidiu aplicar este conhecimento à cardiologia.
Num estudo feito em colaboração com o Hospital Pulido Valente, e publicado esta semana na revista Nature Nanotechnology, o investigador e a sua equipa descrevem a utilização do AFM para avaliar o prognóstico de doentes com insuficiência cardíaca.
Numa primeira fase, mediram a força com que as proteínas de fibrinogénio (envolvidas no processo de coagulação) se agarram aos glóbulos vermelhos, em pessoas saudáveis, obtendo um valor médio. A seguir, mediram o mesmo em doentes com insuficiência cardíaca crónica, num processo de grande minúcia que Nuno Santos compara à pesca de linha – sendo o fibrinogénio o ‘isco’, o glóbulo vermelho o ‘peixe’ e a linha a ponta do AFM usada para prender as moléculas. “Percorremos a amostra de sangue com a molécula de fibrinogénio agarrada. Quando este encontra o seu recetor no glóbulo vermelho, agarra-se”, descreve.
A força desta ligação (entre a proteína de coagulação e o glóbulo vermelho), descobriram os investigadores do IMM, permite prever qual a evolução no estado de saúde do doente. “Quanto maior, relativamente à média para as pessoas saudáveis, maior o risco de vir a ter complicações,” avança à VISÃO. Para já, esta técnica ainda não está no dia a dia dos hospitais. Mas é apenas uma questão de tempo.