Aos 79 anos, o prícipe Aga Khan é o imã dos ismailis, descendente do Profeta Maomé, ainda procura residência oficial em Portugal, que passa na prática a ser o país desta comunidade xiita sem pátria
O líder
O príncipe Karin foi nomeado Aga Khan IV em 1957, quando tinha 20 anos. É o 49º imã dos ismailis, uma minoria xiita que se orgulha de ter como líder um descendente direto do Profeta Maomé, eleito de forma sucessiva e hereditária. Nasceu na Suíça, estudou em Inglaterra e tinha, até agora, a sua residência oficial em França (em breve mudar-se-á para Portugal). Usa o título de “Alteza Real”, que lhe foi atribuído pela rainha Isabel II quando morreu o seu avô, Aga Khan II, e viaja com passaporte britânico, num dos seus jatos privados. É apaixonado por cavalos de corrida (possui mais de 800 animais) e divorciou-se duas vezes. Segundo a Forbes, é o 11º membro da realeza mais rico do mundo, com uma fortuna pessoal de 800 milhões de euros.
A comunidade
Sem um território a que possam chamar seu, os ismailis (cerca de 15 milhões, espalhados por 25 países) unem-se em torno do seu líder, a quem entregam um oitavo dos seus lucros anuais. Em Portugal vivem sete mil ismailis Khoja, ou seja, de matriz étnica indiana, com raízes em Moçambique. É uma comunidade com elevado estatuto social e poder económico, com importantes ligações ao mundo dos negócios, como a família proprietária do Grupo Azinor, onde se incluem os hotéis Sana, e os irmãos Sacoor, fundadores da multinacional de vestuário com o mesmo nome.
A fundação
Anualmente, a Fundação Aga Khan investe 600 a 900 milhões de euros na educação, cultura ou combate à pobreza, em vários países. Criada em 1967 pelo príncipe, iniciou atividades em Portugal em 1983, focando-se sobretudo na inclusão de imigrantes.
A sede
O palácio Henrique de Mendonça, desenhado por Ventura Terra, distinguido com o Prémio Valmor e classificado como Imóvel de Interesse Público, foi agora vendido por €12 milhões, para albergar a sede mundial do Imamat. A intervenção no edifício será feita por arquitetos portugueses. No próximo ano já estará aberto, com cerca de 500 funcionários. Algumas dezenas já se mudaram de França, nos últimos dois meses.
A capital
O Imamat Ismaili passa ter a sua representação mundial em Lisboa, graças a um acordo assinado a 3 de junho de 2015. A aproximação de Portugal iniciou- -se há mais de uma década mas outros países, como o Canadá, disputavam a atenção do príncipe, oferecendo benefícios fiscais e outras regalias em troca dos avultados investimentos do Aga Khan. Para a escolha do nosso país contribuiu o facto de ter sido o primeiro Estado não muçulmano a assinar acordos com o Imamat, primeiro em 2005 e depois em 2009, reconhecendo- -lhe um estatuto semelhante ao Vaticano. Com os extremismos a conquistarem terreno, a união a uma comunidade muçulmana que cultiva a tolerância e a paz foi vista como uma aposta estratégica.