Woosuk Hwang é responsável pelo laboratório onde se faz a clonagem de animais de estimação e não só. Mas o seu percurso tem sido tudo menos pacífico. Em 2005, o médico veterinário conseguiu criar 11 linhas de células estaminais a partir de embriões humanos, com o intuito de estudar as células doentes de outros pacientes. A publicação de dois artigos na revista Science deu-lhe ainda o protagonismo de várias manchetes na imprensa, numa altura em que anunciou, também, ter criado o primeiro cão clonado do mundo.
A Universidade Nacional de Seul, onde era docente, descobriu, um ano depois, que afinal a experiência tinha sido uma fraude. Uma comissão de bioética concluiu que o investigador forçou elementos mais jovens da equipa a doar as suas células, processo que lhe valeu uma pena suspensa de dois anos de prisão. Na Coreia do Sul, apoiado por alguns membros científicos, decidiu então criar o Sooam Biotech, dedicando-se, no início, à clonagem de cães domésticos.
Woosuk Hwang cobra 100 mil dólares (cerca de 88 mil euros) por cada cachorro clonado a partir de um animal falecido. O procedimento envolve a extração dos núcleos das células da pele do animal, que depois são inseridos num ovo vazio – a técnica dá pelo nome de transferência nuclear de células somáticas. Do útero do cão, deitado numa mesa de operações, retira-se o saco amniótico, de onde sai uma bola de pelo molhada e imóvel. O cachorro é embrulhado numa toalha e pouco depois começa a dar os primeiro sinais de vida.
Salvar o lobo da Etiópia
O cientista quis ir mais além e por isso decidiu investir na clonagem de espécies selvagens, em vias de extinção, como o lobo-etíope. Atualmente existem apenas 500 lobos da Etiópia, divididos em seis matilhas separadas umas das outras em prados acima dos três mil metros de altitude. A degradação do seu habitat provocada pela ocupação humana e o cruzamento que muitos pastores fazem da espécie com outros cães domésticos ameaçam também a espécie, dificultando a sua reprodução.
Woosuk Hwang pretende preservar criogenicamente tantas células de lobos quanto possível. Se um animal morrer em ambiente selvagem, seria possível descongelar as células, criando clones a partir de cães domésticos, libertados posteriormente no habitat. O dhole, mais conhecido como cão-selvagem-asiático, é outra espécie que o especialista quer ajudar a preservar.
Clonagem não é prioridade
As práticas do Sooam Biotech estão longe de reunir consenso científico. Os cientistas não consideram a clonagem uma prioridade e temem até que esta “distração da tecnologia” provoque um desinvestimento na preservação dos habitats e da biodiversidade.
Claudio Sillero, biólogo e fundador do Programa de Conservação do Lobo-etíope na Universidade de Oxford, diz que os lobos são “o último representante do deserto dos prados africanos”, mas não acredita que a clonagem praticada por Woosuk Hwang seja viável, tanto que recusou colaborar com o laboratório.
O problema daquela espécie não será, na verdade, a diversidade genética ou as dificuldades de reprodução, mas sim a destruição do habitat pelos humanos e a ameaça de outros predadores.
Luigi Boitani, biólogo a Universidade de Roma, também acha que a clonagem é um “desperdício de recursos” e que deve ser apenas utilizada em situações extremas, de quase extinção. E de momento não conhece “quaisquer espécies de canídeos nessa situação”.