Rogério Teixeira/ ACCBA
É chamado de cão felpudo e cão abandeirado pelos seus conterrâneos algarvios. Tem aparência esguia e atlética dos galgos egípcios dos quais se acredita ter origens, mas há também semelhanças com o Podengo português e os Border Collies, raça inglesa de cães pastores. Podemos juntar estas três raças e temos a imagem do Barrocal Algarvio: focinho alongado, orelhas pontiagudas, cauda em formato de caracol, o pelo comprido, em particular nas patas, cauda e base das orelhas e figura esguia e ágil, podendo chegar aos 58 centímetros e pesar até 25 quilos.
Rogério Teixeira/ ACCBA
O seu nome está relacionado diretamente com a zona geográfica onde a raça se concentrou e desenvolveu: a zona do Barrocal Algarvio, assim caracterizada por existirem várias elevações calcárias de forma irregular que têm o nome de barrocos. Nessa área encontram-se pontos de interesse que se podem visitar no Algarve como a Cascata do Pego do Inferno, a Rocha da Pena, o Castelo de Paderne e Alte, uma das aldeias mais típicas da região algarvia. São territórios íngremes e de difícil acesso, por entre serras e montanhas, que acaba por definir um pouco as características comportamentais e de temperamento desta raça que foi utilizada durante muitos anos para a caça menor (coelhos, perdizes, etc.): são rápidos, agressivos, trabalhadores incansáveis, resistentes às adversidades, enérgicos e territoriais, qualidade necessária para também ser considerado um bom cão de guarda. Tais características não invalidam, no entanto, as suas qualidades para cada vez mais ser escolhido como cão de companhia. É meigo e paciente e adapta-se bem à vida em família, se tiver a atenção necessária para um animal com a sua vivacidade.
Não se livrou, à semelhança de raças portuguesas como o Rafeiro do Alentejo e o Cão de Gado Transmontano, da perspetiva de extinção que se adivinhou nos anos 60. Com a introdução em Portugal de raças de cães de parar como os Pointer, que roubaram ao Barrocal o seu papel de destaque no que à caça dizia respeito, os números de exemplares caíram em flecha. Nos anos 50 contabilizavam-se 3500, uma década mais tarde a procriação e desenvolvimento da raça chegou a um impasse, com apenas cerca de 30 Barrocais contabilizados.
Rogério Teixeira/ ACCBA
E foi aí que entrou em cena a Associação de Criadores do Cão do Barrocal Algarvio (ACCBA) que moveu esforços para impedir que o cão felpudo deixasse de fazer parte da paisagem. Depois de quinze anos de recuperação, apuramento genético e divulgação, a ACCBA conseguiu “alarmar” o Clube Português de Canicultura (CPC) que abriu os olhos para a raça. Rogério Teixeira, Presidente da ACCBA conta como tudo se passou: “Há muito tempo que viamos no Algarve um cão que era completamente diferente dos outros. As pessoas chamavam-lhe “felpudo” e “abandeirado”, por causa do pelo e do formato da cauda. E nós pensamos ‘E se fossemos ver se isto é mesmo uma raça?’ E então procuramos aqueles cães por todo o Algarve, desenvolvemos a raça, criamos um site na Internet destinado à divulgação e aquilo mexeu com os especialistas na matéria.” E assim conseguiram a distinção tão desejada: “Começamos a fazer exposições com os cães, não oficiais porque eles ainda não estavam identificados como uma raça, mas foi aí que o Clube Português de Canicultura começou a olhar para nós com outros olhos e viu que realmente todo o nosso trabalho era honesto e verdadeiro.” Dia 8 de setembro de 2015 foi o dia da vitória.
O CPC já não certificava cães desde 2004, quando o Cão de Gado Transmontano e o Barbado da Terceira adquiriram o seu estalão. Agora, doze anos volvidos, o Cão do Barrocal Algarvio está prestes a tornar-se a 11ª raça portuguesa certificada e aguarda apenas o aval da Direção Geral de Alimentação e Veterinária para que o seu estatuto se torne oficial. Quando tal acontecer, o Barrocal juntar-se-á a outro seu compatriota do sul do país, o Cão de Água Português.
A lista será aumentada em Portugal, mas internacionalmente ainda é muito curta comparativamente com outros países da Europa. Na Federação Cinológica Internacional (FCI), responsável pela certificação de raças de todo o mundo, Portugal apresenta uma lista de apenas oito elementos: Cão de Água Português, Rafeiro do Alentejo, Cão da Serra da Estrela, Podengo Português, Perdigueiro Português, Cão de Fila de São Miguel, Cão da Serra de Aires e Cão de Castro Laboreiro. O Cão de Gado Transmontano, o Barbado da Terceira e agora o Cão do Barrocal Algarvio aguardam a oportunidade de subir ao próximo patamar. Mas esse objetivo está nos planos da Associação: “É outro patamar, é um processo muito demorado. Há muitas raças por este mundo fora que aguardam essa aprovação. Mas vamos tentar.” E quem sabe um dia alcançarem outro estrelato, como Bo e Sunny, os Cães de Água Português da família Obama. Para já, é tempo de apostar ainda mais na divulgação para que o público português conheça melhor o Barrocal. E já há grandes planos para os finais de agosto: a 1ª Monográfica da raça, que juntará em Faro exemplares de Barrocais Algarvios de todo o país.
