Aos 17 anos, Maysa era divertida, adorava cantar e dançar, tinha ótimas notas na escola e muitos amigos. Os seus avós tinham ido de Marrocos para a Bélgica há 50 anos e os seus pais, muçulmanos, construíram carreiras e um lar para os seus filhos em Bruxelas.
“A minha professora chamava-me raio de sol,” recorda agora Maysa, ao jornal britânico The Guardian.
Tudo mudou há um ano. Decidiu começar a usar a jilaba, uma peça e vestuário larga e comprida, com capuz e mangas, usada por algumas mulheres muçulmanas. Ganhou peso, deixou de cantar e dançar e de fumar. Apesar de não consumir álcool, Maysa, até aí, costumava sair com amigos que bebiam, mas isso também acabou.
Publicou uma fotografia nas redes sociais a usar as suas novas roupas e foi rapidamente contactada por outra rapariga. Falaram sobre o seu novo visual e combinaram ir às compras juntas. A sua nova amiga apresentou-a a um grupo de jovens raparigas com um passado parecido ao seu. Todas as raparigas do grupo, à exceção de uma, eram de origem imigrante e viviam em bairros pobres de Bruxelas.
Maysa e o grupo começaram a encontrar-se com frequência em hamburguerias e cafés baratos no centro de Bruxelas, mas nunca em casa de ninguém, nem em mesquitas ou centros religiosos. Deram-lhe um telemóvel pré-pago que devia ser mantido em segredo, através do qual lhe eram indicados os próximo encontros, normalmente por mensagem de texto.
As conversas começaram por abordar o islamismo e as falhas de muitos dos que se intitulavam muçulmanos. Depois, evoluíram para temas políticos e a perseguição aos muçulmanos, depois o Estado Islâmico passou a ser o assunto principal , assim como descrições da qualidade de vida nos locais do autoproclamado califado.
“Elas disseram-me que não havia crime nem discriminação no Estado Islâmico. Falaram sobre relações entre homens e mulheres e disseram que eu ia encontrar um bom marido, mesmo que ele tivesse várias mulheres. Falaram de combater os infiéis e os hereges, mas nunca mencionaram violência, execuções ou coisas do género,” garante Maysa, em declarações ao jornal britânico.
“Eu agora vejo que não sabia nada sobre elas, na verdade. Apenas os primeiros nomes. Mas não questionei nada,” recorda Maysa.
As notas da adolescente entraram em declínio e foi uma questão de meses até começar a nem sequer aparecer nas aulas.
O grupo começou a dizer a Maysa que ela tinha que viajar até à Síria e cumprir o seu dever, pressionaram-na e, em breve, a jovem já não pensava noutra coisa. “Cheguei a um ponto que tudo o que queria era ir para a Síria”.
No início da primavera deste ano, era chegada o momento decisivo. O novo grupo de amigas ia partir para a Síria dentro de dias. Mas quando Maysa perguntou à mãe pelo passaporte, os pais desconfiaram e esconderam-no. A jovem pediu tempo ao grupo, mas não havia. Começaram as ameaças: seria vigiada, a sua família e amigos também. As consequências seriam terríveis.
E foi assim que há sete meses, Maysa destruiu o telemóvel pré-pago e nunca mais foi contactada pelo grupo. Já usa novamente calças de ganga e t-shits, pinta as unhas e voltou à escola. Quer ir viver e trabalhar para Londres, quem sabe na indústria musical.
“Eu fui completamente radicalizada. Eu não estava a pensar os meus pensamentos. Eu não era eu,” conclui Maysa.
O nome de Maysa é fictício.