A paixão pelas motos cruza-se com a história de vida de Miguel Oliveira.
Filho de um antigo campeão nacional de motociclismo, recebeu a primeira moto4 aos três anos. Depressa a pequena moto elétrica ficou sem bateria e com os pneus de borracha quase desfeitos de tanto andar. O pai percebeu que aquele brinquedo era lento e frágil para o uso intensivo que lhe era dado e optou por oferecer-lhe uma máquina mais a sério, com 50 centímetros cúbicos, adaptada ao tamanho do filho. Na casa da Charneca da Caparica, em Almada, o motociclismo fazia parte do dia a dia desta família e, enquanto Paulo Oliveira corria, Miguel dava os primeiros passos entre quatro rodas.
Aos quatro anos, foi forçado a parar. Caiu da moto4 enquanto treinava novos saltos e o pai tirou-lhe o “brinquedo”. Só voltaria a sentar-se ao volante aos 8 anos desta vez para não mais parar.Com uma mota mais potente, com 70 centímetros cúbicos, o miúdo desforrou-se do jejum. E, ao fim de alguns meses, estreava-se nas corridas promovidas em kartódromos nacionais.
Foi também por esta altura que venceu as primeiras provas. Tinha apenas oito anos e o ponteiro da sua mota chegava a atingir os 160 quilómetros por hora.
Focado no futuro
A partir da primeira vitória, a carreira deste jovem motociclista teve uma ascensão fulgurante.
Aos nove anos, os pais levavam-no a Espanha para participar em campeonatos de motociclismo. Aprendeu mecânica com o pai e o tio e treinava todos os fins de semana. Era bom aluno e, desde muito cedo, estabeleceu um pacto com o pai: só recebia novas motas se fosse bem-comportado e tivesse boas notas. E assim foi. Com 11 anos, era aluno de quatros e cincos. Nessa altura, sagrou-se campeão do mundo e foi capa da VISÃO Júnior ao volante da sua mota. “O motociclismo sempre foi o meu desporto de eleição”, reforça hoje o campeão.
“Habituei-me a estudar no avião e nos hotéis. Sempre tive de estudar muito e fiz a escola de forma sofrida, apesar de os professores compreenderem a minha situação”, conta.
Aos 20 anos, a história não mudou muito.
Frequenta o primeiro ano da licenciatura de Medicina Dentária, até porque “esta é uma carreira curta e posso ter um acidente, é importante ter um plano B”.
Contudo, considera que na universidade é mais fácil conciliar os estudos: “Vou fazendo cadeira a cadeira até acabar.” Enquanto prepara o futuro, Miguel Oliveira mal tem tempo para respirar. As provas do campeonato mundial obrigam-no a viajar à volta do mundo desde março e só aos domingos para a fim de descansar incluindo da mota. Durante a semana treina no ginásio, pratica surf e joga à bola. É ainda padrinho de uma associação de apoio a jovens deficientes, a Almadense Rumo ao Futuro.
“Quando estou em Portugal, tento ficar em casa com a minha família. Tenho de dizer muitas vezes que não aos amigos e não é fácil cultivar as amizades quando se está tanto tempo ausente”, lamenta.
No passado domingo, 31, fez soar o hino nacional na Toscânia ao vencer o Grande Prémio de Itália de Moto3. Para cumprir as 20 voltas em 39.39,510 minutos chegou a atingir os 250 quilómetros por hora e está agora em quarto lugar da classificação do campeonato mundial de velocidade. Faltam ainda 14 provas até à meta final, em novembro, mas o português está confiante ganha cada vez mais força o sonho de ser o próximo campeão mundial.