Em geral, o uso de medicamentos deve ser evitado durante a gravidez, especialmente durante o primeiro trimestre. Os dados disponíveis referem que cerca de 2-3% de todas as malformações fetais têm origem na utilização de outras drogas que não o álcool. E os sintomas de privação em recém-nascidos resultantes do consumo de opiáceos (especialmente drogas ilegais como a heroína) durante a gestação já são conhecidos há muito tempo.
Mas sabe-se agora que estes sintomas podem também ser causados por certos analgésicos. O estudo “Prescription Opioid Epidemic and Infant Outcomes” publicado recentemente na revista Pediatrics recolheu dados de 112.029 mulheres grávidas (residentes no Tennessee, EUA). A cerca de 28% destas mulheres foi prescrito pelo menos um analgésico opiáceo. E 65% dos recém-nascidos filhos destas 31.354 mulheres nasceram com sintomas de privação.
Na mesma linha, já no final do ano passado o British National Institute For Health And Care Excellence publicou um breve documento com linhas gerais de orientação sobre a medicação na gravidez que alertava para esta possibilidade.
“Os analgésicos opiáceos podem ser usados em qualquer fase da gravidez para o tratamento a curto prazo da dor moderada a grave, mas o seu uso prolongado pode causar tolerância e dependência na mãe e sintomas de abstinência no recém-nascido (síndrome de abstinência neonatal) quando tomados regularmente”, pode ler-se no documento.
Estes analgésicos são mais fortes que o paracetamol (uma das substâncias prescritas durante a gravidez e globalmente considerada “segura”) e são receitados apenas em caso de dores fortes, pois os estudos que avaliam a sua segurança durante a gravidez são limitados. Mas muitas vezes os dois tipos de substâncias fazem parte do mesmo analgésico (na combinação paracetamol/codeína, por exemplo), por isso as grávidas devem evitar a auto-medicação. Alguns medicamentos de uso comum, para as enxaquecas, dores de dentes ou tosse têm na sua composição opiáceos, como a codeína e o dextrometorfano (os medicamentos Migraleve, Dolviran e algumas versões do xarope Benylin são exemplos).
“Nem todos os bebés expostos a opiáceos no útero sofrem de síndrome de abstinência neonatal, por razões que não são totalmente claras. Mas o nosso estudo descobriu que existem diversos fatores que aumentam o risco de tal acontecer, incluindo o período de uso destes analgésicos, o tipo de prescrição, quantos cigarros a grávida fuma por dia e se estes medicamentos eram tomados em simultâneo com antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (cuja prescrição é relativamente comum)”, disse o Dr. Stephen Patrick, um dos autores do estudo.