Foi um risco desde o primeiro dia. Foi um risco uma produtora pequena como a Take&Sound associar-se à Blue Pipeline, empresa de António Carrapatoso, com a intenção de comprar os direitos do Shark Tank para Portugal. Foi um risco comprar esses e não os de Dragon Den, mais baratos e fáceis de produzir, como os outros países da Europa fizeram. Foi um risco apostar num programa deste tipo, quando toda a programação se faz de novelas, reality ou talent shows. Foi um risco a SIC aceitar, à primeira abordagem. Mas sem risco não se fazem bons negócios.
O risco só começou a diminuir quando se receberam as mais de mil candidaturas, com uma qualidade acima da média. Quem o garante é Paulo Sousa Marques, 52 anos, CEO da Blue Pipeline, que as viu uma a uma. Chegou-se a pensar que não ia haver suficientes negócios fechados por programa. Afinal, acabou-se a chamar outros concorrentes menos bons, pois, ao fim de quatro dias de gravações, já tinham ultrapassado os objetivos.
Em três semanas – tempo recorde -, as ideias, em áreas tão distintas como agricultura, indústria ou tecnologia, estavam expostas aos cinco tubarões, nos estúdios da Venda do Pinheiro, da produtora Endemol: João Rafael Koehler, presidente da Associação de Jovens Empresários e administrador executivo da Colquímica; Mário Ferreira, presidente da Douro Azul; Miguel Ribeiro Ferreira, gestor da Fonte Viva; Susana Sequeira, fundadora da agência de publicidade MSTF Partners (e a única mulher), e Tim Vieira, lusodescendente a trabalhar em Angola com negócios nos media.
As gravações acabaram a 15 de janeiro mas, até agora, ainda só estão prontos cinco episódios. “Há muito trabalho de pós-produção, porque os tubarões não sabiam mesmo o que ia aparecer e muitas vezes os negócios demoravam mais tempo a ser concretizados”, conta Paulo Sousa Marques. Só depois de darem o sim tinham acesso à ficha de candidatura e, em 90 dias, deveriam concretizar a sua intenção de financiamento. Até agora, só dois ou três casos estão periclitantes, mas ainda não caiu nenhuma negociação. Logo durante as gravações, houve almoços com os advogados dos tubarões para dar fôlego aos investimentos.
Antes de partirem para estúdio, em versão intensiva de 2.ª a 5.ª feira, com intervalos apenas para ver e-mails e fazer telefonemas imprescindíveis, a produção organizou uma ação de teambuilding entre os tubarões. “Serviu para se conhecerem uns aos outros e resultou muito bem. Quando fizemos o ensaio geral, usamos um pitch de um concorrente que pediu para não entrar no ar, e nem precisámos de repetir, porque saiu tudo articulado à primeira”, revela o professor do ISCTE e agora CEO do Shark Tank, versão nacional.
A expectativa é grande. Se as audiências assim o ditarem, haverá nova edição. Lá fora, a qualidade do formato tem sido reconhecida: já foi nomeado para o prémio Producers Guild Award, para os Emmy e para Critics Choice Television Award. Em 2014, ganhou o Emmy para Outstanding Structured Reality Program. É que o Shark Tank pode mudar, de facto, a vida dos concorrentes, das suas famílias e até de empregados. Afinal, são 10 minutos em prime time e isso faz toda a diferença a uma empresa à beira da falência ou a uma ideia que ainda estava no papel.
Tome nota
-
Houve 1 100 candidaturas, das quais 250 foram apreciadas pela Universidade Nova de Lisboa. No final, vão aparecer no ar entre ?65 e 70 ideias.
-
Em Portugal passou-se a barreira dos 30 negócios fechados, atingida na primeira temporada da versão norte-americana.
-
Os tubarões investiram mais do que os 2,5 milhões de euros inicialmente estipulados.
-
O pitch mais pequeno tinha 11 minutos. O maior? Uma hora e 12 minutos.
-
A roupa dos tubarões será sempre a mesma ao longo dos 13 episódios, porque a edição mistura negócios de vários dias no mesmo programa.
-
O concorrente mais novo tem 13 anos e o mais velho passa a barreira dos sessenta. E há vários casos entre os 18 e os 20 anos.