A deteção de carne de cavalo, não declarada, em hambúrgueres de vaca assustou os consumidores e obrigou a Comissão Europeia a montar um plano de ação, anunciado hoje. As medidas entram em vigor em todos os Estados Membro, terão a duração de pelo menos um mês e dois objetivos essenciais: detetar a presença de carne de cavalo não declarada no rótulo e despistar a contaminação desta carne com fenilbutazona, um anti-inflamatório administrado com frequência a cavalos de competição (para o tratamento de lesões).
-
Entrevista à bastonária da Ordem dos Veterinários, Laurentina Pedroso
Há algum risco associado ao consumo de carne de cavalo?
Não existe qualquer perigo. O seu consumo está legislado, é uma carne para consumo humano e estão previstos um conjunto de controlos, como acontece com todas as outras carnes. O seu abate ocorre em matadouros licenciados, com inspeção antes e depois do procedimento.
Como classifica a deteção de carne de cavalo em hambúrgueres ou lasanhas comercializados em vários países europeus?
É uma fraude económica, grave. Os consumidores têm o direito de saber o que estão a comer e por isso as leis da rotulagem obrigam à apresentação da composição exata dos alimentos.
O que terá motivado a introdução de carne de cavalo nos hambúrgueres e lasanhas?
O lucro. A carne de cavalo é tendencialmente mais barata e foi vendida como uma carne mais nobre e mais cara.
Quais são as características nutricionais da carne de cavalo?
É muito nutritiva, rica em ferro, proteínas, mais magra e rica em ómega 3. Pode até trazer vantagens nutricionais face à carne de vaca, por exemplo.
No entanto, em Portugal, a expressão ‘carne de cavalo’ é sinónimo de má qualidade.
A maior parte de nós não consome esta carne. Abatem-se pouco mais de três mil equídeos por ano. Não temos este hábito de consumo. Mas em países como a Áustria esta carne é considerada gourmet.
Um dos receios relativamente à carne de cavalo está relacionado com a presença do anti-inflamatório fenilbutazona. Quais as consequências de uma possível contaminação?
Está estabelecido um intervalo de segurança de seis meses entre a administração deste medicamento e o consumo da carne. Mesmo que este tempo não seja respeitado é pouco provável que os resíduos presentes venham a causar danos nas pessoas. Seria preciso ingerir 500 a 600 hambúrgueres por ano para se sofrerem consequências. Aliás, este anti-inflamatório também é administrado a pessoas, no tratamento de gota ou da artrite.