Antes de partir para França, onde arrancou, a 28 de setembro, a fase europeia do circuito mundial de surf, Tiago Pires fez uma paragem na Ericeira e falou com a VISÃO. No rescaldo de uma eliminação polémica na 6ª etapa do circuito mundial, nos EUA, que motivou um não menos controverso comentário do atleta no Facebook – “Afinal a troika veio no mesmo avião que eu de Portugal! Vou ter que a despachar de barco!” – o primeiro e único português a integrar a elite mundial do surf confessa que já pôs de lado o sonho de ser campeão mundial. Fala, também, das duas divisões no World Championship Tour (WCT ou simplesmente tour) – os mais mediáticos e os outros, grupo onde se inclui – e explica porque ainda não conseguiu fazer um bom resultado em Peniche, onde estará, a partir de 10 de outubro, para o terceiro Rip Curl Pro consecutivo, a 8ª etapa do campeonato mundial (são 10, no total). Tiago diz estar no seu melhor, fisica e psicologicamente, mas já fala da vida depois da competição. E diz que será difícil encontrar quem lhe suceda, em breve.
Após a eliminação nos EUA, deixou um comentário sarcástico no Facebook. Está revoltado com o sistema?
Saí muito furioso da água. Quando conferi as notas e vi os vídeos continuei com a sensação de que não tinha perdido. Não é a primeira vez que me acontece… Noutros momentos manifestei-me de outras formas, fui mais impulsivo, mais agressivo com o júri. Evoluí como atleta e percebi que, por vezes, temos que deixar as coisas fluir e brincar um pouco com a situação. Foi isso que quis fazer com aquele comentário no Facebook. O heat foi renhido e tanto podia dar para um lado como para o outro…
Sente que, nessas situações, costuma dar mais para o outro lado?
Não gosto muito de me vitimizar. Já tive várias situações em que perco por quase nada, mas prefiro dar sempre o mérito ao júri, que viu no outro atleta algo mais.
Quando um atleta se manifesta efusivamente, como já fez, por exemplo, há dois anos em Peniche, quais são as consequências?
Não costuma haver consequências. E essa foi uma das coisas que aprendi. A forma mais correta é enviar uma reclamação, por escrito, para o júri, que responde pela mesma via. Mas isto não leva a lado nenhum. Eles não vão mudar o resultado do heat no momento, nem vão voltar atrás.
Isso é assim com todos os atletas do topo mundial?
Alguns, com nomes mais sonantes, têm o mesmo tipo de reações que eu, o mesmo tipo de manifestações e, apesar do júri não voltar atrás, em eliminatórias seguintes, ou provas seguintes, começam a ser mais beneficiados. Sabem que a situação não volta a repetir-se. Às vezes até pode ser produtivo, ir lá apontar o dedo, mostrar uma cara feia, para eles perceberem que, com aquele atleta, não se pode brincar. No meu caso, prefiro não ser assim tão reivindicativo. Sabia que, se fosse lá refilar, não iria ter qualquer efeito. Até pensei que pudesse acontecer o oposto. Até poderia estar a colocar-me numa posição crítica para a perna europeia do circuito mundial. Por vezes acontece, com os surfistas menos cotados, criticarem o júri e, depois, serem injustiçados várias vezes a seguir, porque os jurados também não gostam quando o trabalho deles é posto em causa.
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