A ENTREVISTA DIVIDA POR TEMAS:
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A sucessão
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A vida do tour
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A pressão de ser português… em Portugal
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O fim do sonho
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Os amigos do tour
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A relação com Kelly Slater
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A vantagem psicológica
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As duas divisões do surf
AS FOTOS:
Que conselho daria aos mais jovens que, agora, estão a tentar seguir as suas pisadas?
Tenham muita força de vontade, capacidade de sacrifício e sejam muito humildes, porque não é algo fácil de alcançar. Pode ser uma vida de sonho, mas é difícil lá chegar. Quem vê o Gabriel Medina [jovem surfista brasileiro tecnicamente exímio, conhecido pelas manobras aéreas] até parece fácil, mas as pessoas não têm noção da quantidade de horas que ele passa dentro de água. É quase sobre-humano. Nunca na minha vida vi alguém fazer tanto surf.
Todos nós, que estamos no tour, trabalhámos muito para ali estar.
Há algum português com potencial para estar entre os melhores do mundo?
É muito complicado… Quero acreditar que o Vasco Ribeiro vai ser o meu sucessor, pois ele tem mostrado resultados, tem um nível de surf muito bom e é um competidor feroz. Mas, por outro lado, nós, portugueses, somos ainda muito inexperientes na alta-roda do surf. Parece mais fácil do que é… Há todo um processo de qualificação, que as pessoas em Portugal não têm bem a noção. O Vasco teve um bom resultado este ano, em janeiro, [5º lugar em Jeffrey’s Bay, na África do Sul, num campeonato com a qualificação máxima de 6 estrelas] e havia quem já dissesse que poderia estar na elite no próximo ano. Mas o Vasco, neste momento, não está sequer no top 100 mundial. Eu acabei o circuito de qualificação 3 vezes em 27º, uma vez em 19º e isso não quer dizer nada. Existem 50 atletas com potencial de qualificação e, entre eles, existe um jogo de paciência e de querer. Vence quem está disposto a sacrificar mais a vida. Sei que o Vasco é o atleta que tem mais potencialidades para lá chegar, mas ainda tem um longo caminho pela frente.
Tem ajudado o Vasco, uma vez que estão ambos na equipa Quiksilver?
Não muito. Ele tem a equipa dele, os treinadores dele, que são meus amigos e que respeito bastante, por isso não vou interferir muito. Mas costumo dar-lhe algumas dicas…
Existem semelhanças entre o Vasco Ribeiro e o Tiago, quando tinha a idade dele?
Não. Ele tem certos atributos que eu nunca tive e eu tenho outros que ele não tem, mas que deveria ter, como saber usar mais o rail, saber surfar ondas poderosas, gostar de ondas grandes, ser feroz nos tubos. Ele tem todas as potencialidades, mas tem que trabalhar muito e ter vontade para perder tempo e para apostar nas temporadas havaianas.
E o que é que ele tem que lhe falta a si?
Ele é exímio no surf new school, progressivo. Mas, hoje, os miúdos perceberam que é isso que está a dar pontos e todos eles apostam muito nesse aspeto, pelo que o Vasco também não vai ter a vida facilitada. É preciso é que ele seja completo, porque quem o é, e tem cabeça, normalmente chega lá. Tenho muita curiosidade na carreira do Vasco, vou estar aqui sempre que ele precisar, e ele sabe disso.