VEJA O TRAILER DE UM FILME DE ERIKA LUST NO FINAL DA PÁGINA
“Fazemos amor, não pornografia.” O lema é de Erika Lust, 34 anos, sueca e formada em Ciências Políticas. Ela é pioneira de um movimento que se autodesigna como pornografia feminista. E Lust é a marca da sua produtora independente, fundada em parceria com o companheiro, Pablo Dobner, com quem vive há 11 anos. Ambos residem em Barcelona e são pais de duas meninas (uma de 3 anos e meio e outra de 6 meses). No seu blogue e no Facebook, a realizadora, argumentista e autora esclarece: “Produzimos filmes adultos, revistas e livros eróticos que excitam a mente. Sexo, luxúria e paixão, com um ângulo feminino, estético e inovador.” E explícito, claro, como um filme hardcore deve ser.
Em conversa com a VISÃO, pouco antes de iniciar novo round de filmagens, Erika define-se como uma mulher de negócios a quem interessa chegar às pessoas, sem ter de passar pelo circuito tradicional da indústria porno, dominada por homens e pouco criativa. “No que faço, a mulher não se resume a um acessório para o orgasmo masculino”, diz. “Toma, antes, a iniciativa e assume o seu próprio prazer.” A realizadora prefere falar em sexo urbano e moderno, com erotismo em cenários ditos “normais” e também alternativos, mas sem os estereótipos do costume, “seja o nerd com tesão, a dona de casa desesperada, o condutor de camiões musculado, ou o mafioso rico e poderoso”.
Erika tem sentido resistência a afirmar a sua estética e valores, mas não está sozinha. “Somos umas 15 a fazer este tipo de filmes – em que o porno pode ser erótico e vice-versa – e vamos conquistando prémios [em festivais da especialidade] e públicos.”
Conceito com estilo
A receita é simples: um bom argumento, cenários à altura, e um casting incansável. “Procuramos pessoas saudáveis e com boa aparência, amadoras – geralmente casais, na vida real -, e alguns profissionais.” As histórias com a chancela Lust passam-se de forma apaixonada, emocional e realista: mulheres que se entregam ao desejo de explorar fantasias com outras mulheres, homens que se reconciliam no meio de uma discussão sobre o fim da relação, casais com filhos e fartos do tédio conjugal, envolvendo-se em cenas hardcore. Há jogos de sedução, vingança e intimidade. E ménages à trois, fetichismo e sexo clandestino. E há, sobretudo, novos públicos, destaca a realizadora: “Os homens representam 60% dos compradores, mas muitos adquirem os filmes para agradar às mulheres, e conseguem-no! Também temos, por sinal, clientes portugueses.”
O esforço de Erika parece estar a valer a pena: tem tido convites para palestras em universidades, e filmes e livros seus são usados por sexólogos, como terapia para compreender e ultrapassar a falta de desejo. Participa, ainda, numa investigação em curso, na net, sobre os usos da pornografia. E continua a espantar-se: “Um casal de 65 anos apareceu no nosso show room, assumindo-se como fã!”