Quem melhor do que Pedro Nuno Santos, a voz mais crítica dentro do PS por o partido não ter formalizado o apoio a um candidato presidencial da família socialista, poderia ter fechado o ciclo de conversas online que Ana Gomes levou a cabo ao longo da campanha? Ninguém, ainda por cima quando se trata do dirigente do PS a quem a candidata a Belém manifestou apoio, horas antes, numa eventual corrida à liderança do Largo do Rato.
Pedro Nuno Santos correspondeu ao tom que lhe é habitual e apostou em atacar Marcelo Rebelo de Sousa, a quem António Costa desafiou há meses avançar para um segundo mandato. O dirigente socialista de Aveiro e ministro das Infraestruturas não só criticou o recandidato presidencial pela falta de “autenticidade”, como se mover por interesses que não os que importam ao país. E ainda foi um pouco mais além, alertando que há um povo “que sente que não sai da cepa torta” que precisa da candidata.
“Quando o Governo, num momento difícil, inicia uma negociação com os grupos privados de saúde, a Ana Gomes ‘presidente’ nunca lhe ocorreria reunir com os grupos privados de saúde num momento em que a comunidade representada pelo Governo estava a fazer uma negociação muito importante, para alargar os cuidados de saúde à população nos momentos mais críticos”, disse, no direto “Portugal é consigo, Portugal é connosco”, que juntou várias personalidades diariamente em várias plataformas digitais.
“É nestes momentos que as pessoas se definem e apresentam a sua visão da sociedade”, frisou o socialista, que, antes de Ana Gomes apresentar a sua candidatura, assumiu publicamente que seria capaz de votar eventualmente até num candidato do PCP só para não para escolher Marcelo. Aliás, candidato sobre o qual incluiu – sem dizer o nome – entre aqueles que “não acreditam no SNS” ou que “quando tiveram oportunidade não votaram a favor do SNS”.
Mais críticas a quem se senta em Belém: “Não é a candidata mais institucionalista e ainda bem, porque há uma coisa que precisamos cada vez mais nos políticos: autenticidade”. “Quem é autêntico não está obcecado que em tudo aquilo que diga seja aceite e não seja alvo de crítico. Quem é autêntico, diz aquilo que sente e o que é preciso ser dito. E não tem a tática permanentemente na cabeça antes de falar”, argumentou, num momento em que o número de pessoas que acompanhavam o direto no Facebook aumentaram consideravelmente.
Críticas para dentro em duas frentes: PS e Governo
Num claro recado à cúpula do partido, o ex-líder da JS e da Federação de Aveiro do PS disse que “se os socialistas não estão hoje limitados domingo a votar e a escolher entre candidatos e políticos de outros campos políticos isso deve-se à audácia e candidatura” de Ana Gomes. “Não nos deixaste a nós, militantes do PS, sozinhos nesta campanha”, salientou.
Sobre a antiga eurodeputada, disse que é quem tem “a coragem de enfrentar aqueles que ao longo dos anos têm sempre mandado, governado e liderado”. “É por isso que muitas vezes o povo se sente abandonado, porque se deixa de sentir representado em quem sempre acreditou. Ana Gomes não tem essa necessidade de ser aceite e elogiada pela elite, tem tido a coragem de a enfrentar pelos que mais necessitam”, prosseguiu.
Ao fazer um retrato social do país, o ministro de Costa lamentou que haja “homens e mulheres que trabalham arduamente e, que ao fim de tantos anos, continuam sem perceber porque é se mantêm as mesmas dificuldades que tinham quando começaram a trabalhar, porque é os seus filhos não conseguem tirar as suas licenciaturas, hoje ainda, ou porque é que muitas famílias não conseguem perceber como é que ao fim de 30 anos ganham sensivelmente o mesmo que quando começaram a trabalhar”.
“E é este povo e este país, que sente que não sai de cepa torta, que precisa de uma presidente como a Ana Gomes: que tenha coragem de enfrentar os de cima, quem sempre fizeram e desfizeram ao longo de décadas”, defendeu,
Ana Gomes havia garantido na quinta-feira, na passagem pelo distrito onde Pedro Nuno Santos já dirigiu a federação socialista, que o ministro é alguém que terá o seu apoio para lutar pela liderança do PS. “Serei uma das pessoas que encorajarei Pedro Nuno Santos, quando um dia se abrir a liderança no PS, a avançar. Penso que precisamos de gente jovem, corajosa, com visão, conhecimento do tecido económico e social do país e com dinamismo”, afiançou a candidata.