António Costa e Inês Sousa Real não perderam o balanço das rondas negociais do chumbado Orçamento do Estado para 2020 e trouxeram a mesma atitude para a mesa da TVI, neste sábado à noite: o primeiro-ministro mostrou vontade de ouvir a porta-voz do PAN e de ver onde se poderiam encaixar as reivindicações do partido. O debate foi essencialmente marcado por um tema que deixa Inês Sousa Real confortável – as alterações climáticas -, mas que não apanhou António Costa desprevenido.
Ou não estivesse já Costa à procura de uma nova muleta, o líder socialista fez questão de mencionar “o importante contributo que o PAN tem dado” nas áreas ambientais e da proteção animal, para além da “atitude responsável” do partido, durante as negociações da proposta orçamental. O PAN “foi o único partido que não contribuiu para esta crise política absurda”, disse Costa, que tentou inclusive um afastamento à força de Inês Sousa Real ao PSD, tendo trazido para a conversa a proposta social democrata da liberalização da plantação de eucaliptos só para ver a líder do PAN distanciar-se “completamente dessa visão para o país”.
Embora nem sempre de acordo, o tema em que os dois líderes mostraram estar mesmo em cantos opostos foi o da localização do novo aeroporto.
Apoios sociais
Tanto Inês Sousa Real como António Costa expressaram os mesmos objetivos, quanto aos grandes chavões da economia social. Ambos defenderam o aumento do salário mínimo nacional, dos salários médios, uma revisão dos escalões do IRS e uma descida do IRC. Sendo que a líder do PAN trouxe ainda uma proposta (que constará do seu programa eleitoral, apresentado na próxima terça-feira) para a criação de um rendimento básico incondicional, que, segundo a deputada, integra um conjunto de apoios sociais que contribuiriam para a “implementação em Portugal da economia da felicidade”.
Alterações climáticas e lítio
Inês Sousa Real acredita que Portugal “devia ter sido mais ambicioso nas alterações climáticas”, nomeadamente, na altura de distribuir as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PPR), garantindo que estas “são bem usadas para transição adequada”. De acordo com a parlamentar, apenas 24% dos fundos têm esse objetivo; número desmentido por António Costa, que fala em 38% e defende que esse esforço foi devidamente acautelado.
Sobre o lítio, a líder do PAN queixou-se da “opacidade dos contratos” realizados com as empresas exploradoras e de o Governo não ter acautelado da melhor forma a satisfação das populações em volta das explorações, sugerindo que fossem encontradas “alternativas que ajudem a transitar para uma economia mais limpa”.
Já António Costa optou por lembrar que “o lítio é um recurso decisivo para o armazenamento de energia e uma solução para o problema da eficiência energética” e que o país tem condições privilegiadas para apostar neste recurso, fazendo depois notar que nenhuma zona de exploração está isenta da avaliação de impacte ambiental e que esta tem em conta obrigatoriamente a segurança das populações.
Aeroporto
Se até esta fase do debate as diferenças se esbatiam com um objetivo comum, não há dúvidas de que as posições do PAN e do PS são inconciliáveis no que toca à localização do novo aeroporto. O primeiro defende que deve ser pedida uma nova avaliação de impacte ambiental com a opção de Beja – aquela em que Inês Sousa Real mais acredita e quer conciliar com uma aposta na ferrovia.
António Costa contrapõe com o tempo perdido em deslocações e volta a defender a solução do Montijo, sem deixar de recordar que ainda não existem resultados da avaliação de impacte ambiental pedida, que pesa os prós e contras desta solução e da de Alcochete.
As frases do debate
António Costa: “o PAN foi o único partido que não contribuiu para esta crise política absurda. […] Temos tido um trabalho longo [com o PAN] e, fora alguns exageros, temos conseguido trabalhar de forma muito positiva”.
“Não pode haver transição energética sem lítio. Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal”.
Inês Sousa Real: “O PRR devia ter sido mais ambicioso nas alterações climáticas”.