Mónica Freitas, 27 anos, assistente social, foi eleita pelo PAN como deputada da Assembleia Regional da Madeira. A nova parlamentar construiu a sua reputação de ativista com a participação em projetos contra o bullying na escola, o empoderamento feminino e diversas intervenções ditas “fraturantes”, nomeadamente, em defesa da eutanásia. Fundou a Associação Humaniza-te, em prol da condição da mulher madeirense, e conduz o podcast “O Masturbador Virtual”, cujo nome, admite, chama a atenção e, por isso, “não foi escolhido por acaso…”, onde se tratam, de forma desempoeirada, assuntos muitas vezes considerados tabu, sobretudo numa “sociedade ainda muito conservadora, machista e patriarcal como é a sociedade madeirense”. Ainda como estudante universitária, Mónica Freitas representou as jovens portuguesas na reunião anual de 2017 da Comissão para o Estatuto da Mulher da ONU. Após as eleições regionais, assinou um acordo de incidência parlamentar com o PSD de Miguel Albuquerque, o que pôs o país político de boca aberta.
Começando por esta questão, o facto de a do PAN numa solução governativa se ter dado pela Direita, a deputada regional afirma que esta foi uma forma de “agarrar a oportunidade de influenciar as decisões” e implementar “algumas propostas” que constavam do programa eleitoral do partido. “Esse objetivo” assegura, “foi atingido, partindo do princípio de que as partes que assinaram o acordo de incidência parlamentar estão de boa fé”. No fundo, mais do que um partido ideológico, “o PAN é um partido de causas” e “embora haja divergências, não se negoceia com quem pensa igual a nós”. Por essa mesma razão, não sente desconforto pelo facto de o parceiro de acordo, Miguel Albuquerque, ser um inveterado caçador: “A posição do PAN, relativamente à caça, é conhecida, mas isso não impede que haja um acordo que traga benefícios noutros domínios”. O problema da superpopulação de algumas espécies selvagens, que destroem bens e culturas e aumentam a insegurança de populações, como os javalis, nalgumas regiões do Continente, ou os coelhos bravos, no Porto Santo, pode ser resolvido, tanto no Continente como na Região Autónoma, “com medidas alternativas à caça e isso deve ser discutido com peritos e, depois, a nível parlamentar”.
Mónica Freitas admite que houve alguma turbulência interna, no PAN, com a assinatura deste acordo: “Isso também se deveu a muita especulação da imprensa, que chegou a falar de uma coligação – e não é disso que se trata”. O PAN, assegura, “vai continuar a trazer para a discussão, no Parlamento Regional, as suas causas”. Aliás, “existem especificidades políticas na Madeira”.
Nunca foi intenção do PAN entrar para o Governo Regional. No acordo, o que pretendemos foi garantir a aplicação de medidas constantes no nosso programa
Mónica Freitas revela que a possibilidade de entrar no Governo Regional, nomeadamente, com a titularidade de uma secretaria regional, “esteve em cima na mesa, como é natural, quando se faz este tipo de negociação”. Mas, acrescenta, “nunca foi intenção do PAN entrar para o governo; o que nos interessa, em primeiro lugar, é a aplicação de medidas que o nosso programa preconiza, na defesa animal e ambiental”. Mónica Freitas explica que o timing foi apertado, mas que havia a necessidade de chegar a um acordo de princípios antes da reunião com o representante da República, onde seria transmitida a mensagem da garantia da estabilidade governativa. Mónica Freitas rejeita qualquer relação entre a sua atividade de assistente social, num instituto público madeirense, integrado na administração pública local, e a sua disponibilidade para chegar a um acordo: “Foi o partido PAN quem assinou o acordo, e ele foi ratificado pela direção do partido, a nível nacional”.
A jovem deputada descansa os madeirenses que dependem da atividade turística e assevera que “não precisam de ter medo do PAN” (risos). “Reconheço a importância do Turismo na economia local, que tem muitos benefícios para a Madeira. Mas existe hoje um turismo de massas que devemos controlar, até para preservar o ambiente e o património que os próprios turistas procuram, e até para a sua própria segurança”. Uma das medidas, nesta área, é a imposição de uma taxa turística cuja receita “deve reverter para a preservação ambiental e patrimonial”.
Reconheço que o turismo tem muitos benefícios para a Madeira. Mas há um impacto negativo no turismo de massas, que precisa de correções
Confrontada com as críticas feitas na campanha eleitoral pela oposição, a Miguel Albuquerque, acusado de estar ao lado dos interesses imobiliários, Mónica Freitas admite que o problema da habitação, na Madeira, é grave e que o tema está na agenda das preocupações do PAN. Mas não se sente desconfortável em ter assinado o acordo com Albuquerque porque “o diálogo é necessário para ajudar a resolver, também, esse problema”. O PAN, garante, levará o tema à discussão, na Assembleia Regional.
Nesta entrevista, Mónica Freitas fala do seu ativismo cívico, do seu podcast e da relação intergeracional. Já Alberto João Jardim, figura que não tem deixado de ser criticada no “Masturbador Virtual” é resumida, apesar de tudo, numa palavra: “Importante”.