António Nunes está prestes a cumprir um ano na presidência da LBP – foi eleito no dia 30 de outubro de 2021 –, mas o primeiro verão na liderança desta estrutura não deixa boas recordações, depois de os fogos na Serra da Estrela e Ourém terem contribuído para que Portugal se tornasse no terriotório europeu com mais área ardida em termos percentuais.
No programa Irrevogável, António Nunes considera que “ainda é cedo para se fazer um balaço final” da época de fogos, mas alerta que este cenário promete “manter-se no futuro”, muito devido ao fenómeno das alterações climáticas. Conclusões que, refere, confirmam que, neste momento, deve ser dada prioridade “ao combate aos incêndios, e menos à prevenção”.
“A reforma da prevenção e planeamento da floresta é uma reforma de uma geração, a 10/15 anos. O que foi decidido em 2017, após os incêndios de Pedrógão Grande e Oliveira do Hospital, vai dar resultados no futuro, mas não daqui a um ou dois anos. Portanto, enquanto não se atinge a maturidade desse projeto, temos de continuar a investir no combate aos incêndios, investir em mais meios, recursos humanos e qualificações, sob pena de chegarmos a um ponto em que a área ardida é superior ao admissível em termos ambientais”, afirma.
Prioridade ao Comando Nacional de Bombeiros
Em resposta à opção do Governo em avançar para a divisão territorial prevista na Nova Lei Orgânica da Proteção Civil (prevista desde 2019), o presidente da LBP volta a lançar para ‘cima da mesa’ a criação do Comando Nacional de Bombeiros, pois considera que esta “seria a melhor opção para os homens que estão no terreno a combater os fogos”. “Devemos apostar nos bombeiros, organizá-los, dar-lhes mais meios, e isso só pode ser feito através da criação deste comando” autónomo, diz.
“Ao contrário do que se diz, com a criação do Comando Nacional de Bombeiros, a própria Proteção Civil ficaria com um papel de maior responsabilidade e consistência”, garante António Nunes, uma vez que ficaria com a coordenação geral do sistema. “Num teatro de operações, a Proteção Civil não tem apenas de se preocupar com o combate às chamas, mas também com a evacuação das populações, com o corte de estradas, com a logísitca, com garantir que as comunicações, a distribuição de água, energia e alimentos. Aos bombeiros compete apenas combater as chamas – com o Comando Nacional de Bombeiros o sistema ficaria mais robusto”, acredita.
António Nunes confessa nesta entrevista que o novo modelo de organização dos bombeiros proposto pelo Governo está a deixar os bombeiros “preocupados” e “teme” que o mesmo possa “representar um risco”. O presidente da LBP apela ao diálogo com Ministério da Administração Interna (MAI) e Proteção Civil, no sentido de sere “encontrado um caminho conjunto”.
“Estamos disponíveis para começar a conversar já hoje. Temos um projeto em aberto, percebemos as dificuldades… Temos consciência que ainda estamos a tempo de nos sentarmos com o Governo e a Proteção Civil” para discutir este tema. O líder dos bombeiros portugueses diz ainda que “a LBP nunca pensou em interferir nas decisões políticas”, mas alerta que “os bombeiros, quando mudam de estrutura de comando, têm de estar preparados e o tempo, neste caso, é manifestamente insuficiente”.
Serra da Estrela: e (quase) tudo o fogo levou
Ainda sem conclusões formais, António Nunes admite que “é do senso-comum” que existe “o sentimento de que houve coisas que se poderiam ter feito de outra forma” no grande incêndio ocorrido este ano, na Serra da Estrela. “Não diria que houve uma desorganização operacional, mas que houve ações ao nível tático e manobras que pdoeriam ter sido conduzidas de forma diferente e com resultados diferentes”, afirma.
As primeiras conclusões do grupo de peritos constituído pelo MAI devem estar prontas em meados de novembro, mas o facto de a coordenação esta comissão ter ficado a cargo de Tiago Oliveira, presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), uma estrutura na dependência do primeiro-ministro, continua a merecer críticas. “A LBT não tem muito a dizer sobre essa matéria, mas tem o princípio geral que a AGIF é um dos elementos do elo que tem de ser avaliado. Não sei se me parece bem que alguém que também tem de ser avaliado – porque também contribui para o que de bom e de mau aconteceu – esteja a fazer essa auto-avaliação. Por muito idependente que o dr. Tiago Oliveira seja, sabemos que há sempre aquela tendência de, pelo menos, conhecer os resultados antes dos outros”, sublinha António Nunes.
O presidente da LBP voltou a abordar o papel do SIRESP no teatro de operações, considerando qque “não há nenhum sistema de comunicações infalível”, mas assumo que, desde 2017, “o sistema melhorou, graças à introdução de antenas móveis” em cenários de comabte aos fogos “mais complexos”. “O SIRESP foi um sistema muito discutido, com opiniões diversas, mas, hoje, não temos alternativas. Temos de o saber usá-lo o melhor possível e fazer os investimentos necessários, como estão a ser feitos, para melhorar a sua capacidade operacional”, conclui.
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